quinta-feira, 20 de maio de 2010

O Caminho faz-se caminhando




Caminante, son tus huellas
el camino, y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante, no hay camino,
sino estelas en la mar.

António Machado


Depois de ler este poema, digo todos os dias:
PASSO A PASSO, 
O CAMINHO FAZ-SE CAMINHANDO! 


Esta é a questão da prioridade de essência/existência.

Reflectindo sobre a caminhada na minha vida, cheguei à conclusão que não estava a viver, estava a sobreviver: acordava de manhã para ir trabalhar, fazia um trabalho que não gostava em troca de dinheiro, estava refém de uma prestação de casa e de carro, descansava quando o patrão me deixava, ia de férias quando o patrão estipulava, tinha de fazer horas extra sem opção de escolha e sem ganhar mais por isso... A certa altura, senti que estava a asfixiar, dormia mal, e a hora tinha chegado: aquela hora que sentimos que alguma coisa na nossa vida vai ter de mudar!

E foi aí que tudo mudou na minha vida!

Onde queremos chegar?

Qual o caminho a fazer para lá chegar?

E quando li este poema, deste poeta sevilhano maravilhoso, eu percebi que muitas vezes valorizamos o fim e não vemos a beleza do caminho. Queremos saber se acabamos a licenciatura, se vamos ter um bom emprego, comprar a casa dos nossos sonhos, um bom carro, sempre com os olhos postos num futuro que nunca vem. Quando entramos neste frenesim, a vida escapa-nos por entre os dedos. Qual é a importância das conquistas e das derrotas, em relação ao caminhar, preparar, estudar e viver até lá chegar? Deixamos o mais importante passar ao lado e vivemos um extase passageiro.

Hoje eu sei que tenho de viver o presente com mais intensidade, sem deixar que os meus olhos no futuro, roubem a minha capacidade de aproveitar cada momento!

Quando eu era criança, vivia no campo, o mundo era mais colorido e a vida era mais divertida.

E eu vi que agora adulta, eu deixei de valorizar cada caminho, cada cheiro, cada sensação.

Ensinaram-me a valorizar uma licenciatura, um bom emprego, uma boa casa e um bom carro. Desde então, eu esqueci-me de como é bom aproveitar a vida: andar devagar pelas ruas, sair de casa quando está a chover sem me preocupar com o cabelo, calçar e vestir o que me apetecer, viajar sem destino e sem dia para voltar (Shakespeare, um sábio, dizia " se tu não sabes para onde vais, qualquer caminho serve" ).

Quando eu era criança todos os caminhos eram cheios de emoção e descobertas. Mas tudo isto faz parte de um passado, é um museu no meu cérebro. São pedaços da minha história...daí para a frente pintei tudo de cinza...

E agora?

Sei que quero voltar a caminhar...sem rumo, sem tempo. Quero sentir o cheiro, o sabor, o calor

Não sou apologista de um mundo sem ambição: não há nada de errado de sonhar, ter a nossa casa, o nosso carro, mas que isso não se transforme numa armadilha, que não vire uma disputa com os outros. Que seja para nós, para o nosso equilíbrio, para o nosso bem estar.

O importante é ser feliz! O que é que me faz feliz? Nada é irreversível!

Mais importante do que a chegada é o caminhar!!

Já dizia Moska 
" Então me diz qual é a graça, de já saber o fim da estrada, quando se parte rumo ao nada..." 

Qual o sentido de nos preocuparmos mais com a chegada, se a beleza está na caminhada...Isso não quer dizer que não pense no meu futuro, simplesmente devo prestar mais atenção ao trajecto, aproveitar intensamente os prazeres encontrados ao longo da caminhada.

Chega sempre uma altura na nossa vida, em que temos de escolher um caminho a seguir, ou mais tarde, mudar de caminho. Não dá para ficar no mesmo sítio! É como estar no meio de um cruzamento e temos de decidir que caminho seguir. Uma vez tomada a decisão. é preciso seguir em frente, confiar no nosso coração, e esquecer o caminho que ficou para trás.

Decidi viver um dia de cada vez, viver intensamente cada momento, parar para sentir, curtir, perceber...

Acabo com Martha Medeiros:

"Sentir é um verbo que se conjuga para dentro, ao contrário do Fazer, que é conjugado para fora. Sentir alimenta, ensina, acalma. 
Fazer é muito barulhento"

As crianças sentem mais do que fazem.
Por isso são tão felizes.
Acho que é por isso que nos lembramos da nossa infância com tanta saudade!!

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