sexta-feira, 25 de abril de 2014

Portugal





(...) 
Torpe dejecto de romano império; 
babugem de invasões; salsugem porca 
de esgoto atlântico: irrisória face 
de lama, de cobiça, e de vileza, 
de mesquinhez, de fátua ignorância; 
terra de escravos, cu pro ar ouvindo 
ranger no nevoeiro a nau do Encoberto; 
terra de funcionários e de prostitutas, 
devotos do milagre, castos 
na hora vaga da doença oculta: 
terra de heróis a peso de ouro e sangue, 
e santos com balcão de secos e molhados 
no fundo da virtude; terra triste, 
à luz do sol caiada, arrebicada, pulha, 
cheia de afáveis para os estrangeiros 
que deixam moedas e transportam pulgas... 
(...) 


Jorge de Sena 
in, QUARENTA ANOS DE SERVIDÃO



“Cada vez mais penso que Portugal não precisa ser salvo, porque estará sempre perdido como merece. Nós todos é que precisamos que nos salvem dele.
Mas sabe que não há maneira fácil?”
Carta de Jorge de Sena a Sofia de Mello Bryener



Li no Jornal de Letras há uns anos que,  quando chegou a Portugal do exílio, depressa constatou que andavam todos a correr atrás do poder.
Foi o que disse a Mécia, justificando a sua vontade de regressar ao exílio após o 25 de Abril.
Depois da sua morte, Mécia de Sena ainda se viu grega para que acolhessem o património do escritor poeta.
A uma dada altura Mécia conta, em entrevista ao JL, que a família Soares não lhes ligou nenhuma.
Ao contrário da família Eanes.
Temos uma história recente de gente muito reles...muito reles...

Mas o povinho quer é Fado, Futebol e a Nossa Senhora de Fátima...






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