segunda-feira, 23 de junho de 2014

contra o chão das paredes




...Andavam pela casa amando-se no chão e contra as paredes.
Respiravam exaustos como se tivessem nascido da terra,de dentro das sementeiras.
Beijavam-se magoados até se magoarem mais.
Um no outro eram prisioneiros um do outro e livres libertavam-se para a vida e para o amor.
Vivendo a própria morte voltavam a andar pela casa amando-se no chão e contra as paredes.
Então era música, como se cada corpo atravessasse o outro corpo e recebesse dele nova presença, agora serena e mais pobre mas avidamente rica por essa pobreza.
A nudez corria-lhes pelas mãos e chegava aonde tudo é branco e firme.
Aquele fogo de carne era a carne do amor,era o fogo do amor,o fogo de arder amando-se e por toda a casa,contra as paredes,no chão.
Se mais não pressentissem bastaria aquela linguagem de falar tocando-se como dormem as aves.
E os olhos gastos por amor de olhar,por olhar o amor.
E no chão contra as paredes se amaram e pela casa andavam como se dentro das sementeiras respirassem.
Prisioneiros libertados, um no outro eram livres e para a vida e para o amor se beijaram magoando-se mais, até ficarem magoados.
E uma presença rica,agora nova e mais serena,avidamente recebeu a música que atravessou de um corpo a outro corpo chegando às mãos onde toda a nudez é branca e firme.
Com uma carne de fogo,incarnando o amor,incarnando o fogo,contra o chão das paredes se amaram pressentindo que andando pela casa bastaria tocarem-se para ficarem dormindo como acordam as aves...

Joaquim Pessoa

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