domingo, 3 de agosto de 2014

.........o corpo como uma paisagem


“Agora, pela primeira vez, pensa no que é a mulher, NO QUE É A ESSÊNCIA DO FEMININO.
Tem a revelação de que o encanto da mulher, quando esta não é rebaixada por todo o tipo de condições exteriores, advém do facto de ela ser a mágica transformadora, virtualmente capaz de tudo converter em graça etérea, e nenhuma tentativa de a aviltar produz efeito.
É certo que ela é carne, mas não é menos certo que essa mesma carne se transmuda constantemente em murmúrios, em perfumes, em vibração, em ondas infinitas cuja música importa não abafar. Pensando bem, o corpo da mulher encarna o mais ardente milagre da natureza.
Ou mais precisamente, é a natureza que nela se resume em milagre.

Não é verdade que nela se encontra toda a beleza da natureza: suave colina, secreto vale, nascente e prado, flor e fruto?
Assim sendo, não se deve ver-lhe o corpo como uma paisagem?
Ora, como ensina o mestre tauista, numa paisagem, mais do que as entidades substanciais, importa aprender a entrar em comunhão sobretudo com aquilo que delas emana, a irradiação que vem dos musgos, as ondas sonoras que vêm dos pinheiros, os aromas que vêm dos sucos propagados pela bruma e pelo vento.

(...)
Tu mulher de linha pura, dotada de grande doçura, mas educada desde a infância para a submissão, sujeita às leis dos homens, às ideias que eles formularam do teu ser e das virtudes da mulher, quando a força envolvente está em ti, que seguras as duas pontas da vida - claro que precisas de tempo para vencer o medo do olhar e das palavras dos outros.”


in, “A ETERNIDADE NÃO É DEMAIS”
François CHENG

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