quarta-feira, 8 de outubro de 2014

LOBO - Simbologia



O lado negativo do lobo assombrou muitas culturas da antiguidade.
O famoso conto europeu de Chapeuzinho Vermelho nos deixa o legado de temer o "lobo mau", nos fazendo crer desde crianças que não há outro lobo senão o mau.

Hades, o senhor dos infernos, se utiliza de uma capa de pele de lobo. O deus da morte dos etruscos é representado com orelhas de lobo.
Enquanto os bruxos e bruxas se transformavam em lobos para irem aos sabás, na Espanha o lobo era conhecido como montaria dos feiticeiros.

Para os muçulmanos, ele é um dos obstáculos em seu caminho até Meca, podendo assumir a forma monstruosa da besta do apocalipse.
O lobo nas lendas e credos populares do ocidente é uma praga maligna que destrói rebanhos. 
Não podemos deixar de citar também a maldição de homens que se transformam em lobos na Lua cheia – os lobisomens.

Na mitologia egípcia, Anúbis é chamado de Impu, "aquele que tem a forma de um cão selvagem".
É também uma das formas dadas a Zeus (Licaios), a quem se imolavam em sacrifício seres humanos, nos tempos em que reinava a magia agrícola, para pôr fim às secas, aos flagelos naturais de toda espé­cie: Zeus vertia então a chuva, fertilizava os campos, dirigia os ventos.





Os lobos foram pintados com um pincel negro nos contos de fada e até hoje assustam meninas indefesas. Mas o simbolismo do Lobo é vasto e não representa apenas seu lado negativo.
Nem sempre eles foram vistos como criaturas terríveis e violentas. 
Para muitas culturas, representa nossa ligação com a natureza e a magia. Representa também a linha entre o conhecido e o desconhecido, a vida e a morte, o plano físico e o plano espiritual.

O lobo possui a ferocidade quando protege. Por isso é tão temido... Pode realmente ser uma fera assassina se o que ele guarda for ameaçado.
No Japão ele é invocado para guardar locais.
O simbolismo da proteção também surge na loba de Rômulo e Remo, que também remete à fecundidade. Na Sibéria, Turquia e Anatólia, a loba é invocada para dar fecundidade às mulheres. Na Grécia antiga e em Roma, o animal era o consorte de Ártemis, a caçadora, e carinhosamente amamentava os heróis.

Ao mesmo tempo ,ele representa o sentido de união. Os lobos caçam em grupos e, como os cães, gostam de brincar. São fiéis, possuem um parceiro para a vida toda. Uivam para marcar território, lamentar uma perda, pedir ajuda ou só por diversão. Sabedorias antigas nos contam que foi o lobo que nos ensinou como criar a comunidade sobre a Terra, pois os lobos têm um conhecimento intuitivo da ordem no meio do caos e eles possuem a habilidade para sobreviver à mudança, intactos.

Para os nativos americanos, o lobo é um símbolo espiritual poderoso. Eles são considerados como professores "descobridores de trilhas". A estrela do lobo era vermelha, uma cor estimada, associada com o lobo por todas as tribos. Também conhecida como Sírius, ela é a estrela mais brilhante no céu do norte. A via láctea era o caminho do lobo - a rota para o paraíso. “Eu sou o lobo solitário, eu vago em diversos países”, diz um canto de guerra dos índios das pradarias norte-americanas.

Os índios respeitam a bravura do lobo como caçador, sua determinação e a maneira como ele se move silenciosamente pela paisagem. Eles ficam emocionados com seu uivo, que consideram como uma conversa com o mundo espiritual. Aliás, o lobo aparece em muitas lendas como um mensageiro, um viajante de longa distância e um guia para qualquer um que esteja buscando o mundo espiritual. Ele traz o presságio de novas ideias.

O lobo é o grande professor. É o sábio, que após muitos invernos no caminho sagrado, buscando os caminhos da sabedoria, retorna para compartilhar seu conhecimento com a tribo.
Para a China, também a estrela Sírius é o lobo celeste, guardião do palácio celeste (Ursa Maior). Esse caráter polar se explica pelo fato de que se atribui o lobo ao Norte.

O lobo é também o símbolo do herói guerreiro, ancestral mítico.
Gengis Khan, o criador das dinastias chinesa e mongol é o lobo azul celeste. Sua força e seu ardor no combate fazem dele uma alegoria que os povos turcos perpetuam até na história contemporânea, pois Mustapha Kemal, que se nomeara a si próprio Ataturk, isto é, Pai dos Turcos, recebera de seus partidários o sobrenome de lobo cinzento.



A analista junguiana Clarissa Pinkola Estés constrói um paralelo entre os lobos e as mulheres da sociedade moderna.
Ao investigar o esmagamento da natureza instintiva feminina, Clarissa descobriu a chave da sensação de impotência da mulher moderna.
Seu livro, MULHERES QUE CORREM COM OS LOBOS, ficou durante um ano na lista de mais vendidos nos Estados Unidos.

Abordando 19 mitos, lendas e contos de fada, como a história do patinho feio e do Barba-Azul, Estés mostra como a natureza instintiva da mulher foi sendo domesticada ao longo dos tempos, num processo que punia todas aquelas que se rebelavam. Segundo a analista, a exemplo das florestas virgens e dos animais silvestres, os instintos foram devastados e os ciclos naturais femininos transformados à força em ritmos artificiais para agradar aos outros.

Mas sua energia vital, segundo ela, pode ser restaurada por escavações "psíquico-arqueológicas" nas ruínas do mundo subterrâneo.
Até o ponto em que, emergindo das grossas camadas de condicionamento cultural, apareça a corajosa loba que vive em cada mulher.



Marcelo Dalla




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