sábado, 25 de outubro de 2014

Zygmunt Bauman - Fronteiras do Pensamento



Zygmunt Bauman, filósofo polaco, reflecte sobre a individualização da sociedade contemporânea em entrevista exclusiva concedida a Fernando Schüler e Mário Mazzilli na Inglaterra.
Democracia, laços sociais, comunidade, rede, pós-modernidade, dentre outros tópicos analisados por uma das grandes mentes da contemporaneidade.

Actualmente é professor emérito de sociologia das universidades de Leeds e Varsóvia.
Hoje tem 88 anos.

Bauman tornou-se conhecido por suas análises das ligações entre modernidade (controle sobre a natureza, hierarquização burocrática, regras e normatização, categorização, para impor ordem, diminuir entropia social e insegurança),
holocausto (não simplesmente um evento da história do povo judeu, mas característica da modernidade),
e pós-modernidade (renúncia à segurança característica da modernidade em favor da liberdade, liberdade de comprar e consumir).



"Estamos cada vez mais aparelhados com iPhones, tablets, notebooks, tudo para disfarçar o antigo medo da solidão.
O contacto via rede social tomou o lugar de boa parte das pessoas, cuja marca principal é a ausência de comprometimento.
Este texto tem como base a ideia de líquido, característica presente nas relações humanas actuais, inspirado na obra "Amor Líquido" - sobre a fragilidade dos laços humanos, de Zigmunt Bauman.
As relações se misturam e condensam com laços momentaneos, frágeis e volúveis.
Num mundo cada vez mais dinâmico, fluido e veloz, seja real ou virtual.

VIVEMOS TEMPOS LÍQUIDOS. NADA É PARA DURAR.
Zygmunt Bauman


“Amor liquido” é talvez o livro mais popular de Bauman.
É neste livro que o autor expõe sua análise de maneira mais simples e próxima do quotidiano, analisando as relações amorosas e algumas particularidades da “modernidade liquida”.
Vivemos tempos líquidos, nada é feito para durar, tampouco sólido. 
Os relacionamentos escorrem das nossas mãos por entre os dedos feito água.
Ele tenta mostrar-nos a nossa dificuldade de comunicação afectiva. Todos querem relacionar-se, mas chega na hora, não conseguem. Seja por medo ou insegurança.
Bauman cita como exemplo um vaso de cristal, na primeira queda, quebra.
As relações terminam tão rápido quanto começam, as pessoas pensam terminar com um problema cortando seus vínculos, mas o que fazem mesmo é criar problemas em cima de problemas.
É um mundo de incertezas.
E cada um por si.

Temos relacionamentos instáveis, pois as relações humanas estão cada vez mais flexíveis. Acostumados com o mundo virtual, e com a facilidade de se “desconectar” as pessoas não conseguem manter um relacionamento de longo prazo. É um amor criado pela sociedade actual (modernidade líquida) para tirar-lhes a responsabilidade de relacionamentos sérios e duradouros.

Pessoas estão sendo tratadas como bens de consumo, caso haja defeito, descarta-se ou até mesmo troca-se por versões mais actualizadas.

O romantismo do amor parece estar fora de moda.
O amor de verdade foi banalizado, diminuído a vários tipos de experiências vividas pelas pessoas, na qual se referem a estas utilizando a palavra amor.
Noites descompromissadas de sexo são chamadas “fazer amor”.
Não existem mais responsabilidades de estar amando, a palavra amor é usada mesmo quando as pessoas nem sabem direito seu real significado.

Ainda para tentar explicar a relações amorosas em “Amor Líquido”, Zygmunt Bauman fala da “ Afinidade e Parentesco.”
O parentesco seria o laço irredutível e inquebrável é aquilo que não nos dá escolha.
A afinidade é, ao contrário do parentesco, voluntária. A afinidade é escolhida. 
Porém, e isso é importante, o objectivo da afinidade é ser como o parentesco.
Entretanto, vivendo em uma sociedade de total “descartabilidade” até as afinidades estão se tornando raras.

Bauman fala também sobre o amor próprio. 
Afirma que as pessoas precisam se sentir amadas, ouvidas, amparadas ou que sintam sua falta. Segundo ele, ser digno de amor é algo que só o outro pode nos classificar, o que fazemos é aceitar essa classificação. Mas com tantas incertezas, relações sem forma, líquidas, na qual o amor nos é negado como teremos amor próprio?
Os amores e as relações humanas de hoje são todos muito instáveis.
E assim não temos certeza do que esperar.
Relacionar-se é caminhar na neblina, sem a certeza de nada. 
É uma descrição poética da situação.


"Para ser feliz há dois valores essenciais que são absolutamente indispensáveis [...] um é segurança e o outro é liberdade, você não consegue ser feliz e ter uma vida digna na ausência de um deles. Segurança sem liberdade é escravidão. 
Liberdade sem segurança é um completo caos. 
Você precisa dos dois. [...] 
Cada vez que você tem mais segurança você entrega um pouco da sua liberdade. 
Cada vez que você tem mais liberdade você entrega parte da segurança. 
Então, você ganha algo e você perde algo".

Zygmunt  Bauman

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