terça-feira, 11 de novembro de 2014

O meu direito à diferença, num mundo cada vez mais igual



"não me espartilhes em comemorações vazias
pequenas cedências da tua masculinidade intocável
um par de calças condescendido por saberes que todos
os outros nos armários serão inequivocamente teus

não me chames «mulher» como se fosse um insulto,
sintoma de doença nervosa, quando pensas em segredo
que «as mulheres permaneçam caladas» onde quer que
seja o seu mundo – novo ou antigo, doméstico ou laboral

não me endeuses, não me pendures nas paredes,
nem me assentes em pedestais – sossegada, quieta,
inofensiva, agradável à vista dos teus amigos que fumam
charutos e bebem uísques com sabor a misoginia

não me dês flores nem atenções vazias em dias
marcados no calendário, como se fossem pílulas
douradas da prescrição masculina contra a histeria,
suplemento vitamínico do sexo fraco

dá-me anos inteiros para ser a mulher que sou eu,
as mesmas oportunidades, as mesmas lutas,
a mesma retribuição pelo meu trabalho,
o meu direito à diferença, num mundo cada vez mais igual"

Carla Pinto Coelho

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