segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Somos casas muito grandes



Nós somos casas muito grandes, muito compridas. 
É como se morássemos apenas num quarto ou dois. 
Às vezes, por medo ou cegueira, não abrimos as nossas portas. 

António Lobo Antunes



Caraças...esta fez pensar...

Há pessoas, poucas, que nos "estragam" pela vida que nos mostraram, que nos deram, que vivemos.
E naquele momento em que partem, parece que não há vida que nos encaixe, que nos sirva, que nos reste, porque tudo nos sobra.
Sobra-nos espaço, sobra-nos vazio.

O Lobo Antunes diz nesta frase que publiquei aqui em cima, que as pessoas são como casas, nem todos os quartos estão habitados.
Pois...
Eu tinha quartos que não sabia que tinha até alguém os escancarar, e juntos os habitámos.
Entrámos, despojámo-nos, abrimos janelas com vistas conversadas de mundo, daquele que se via fora das janelas e janelas adentro, tivemos o prazer da pele ao sol, dos banhos de luar quente, do silêncio que era só paz, dos beijos que encostavam as almas.

Depois mais tarde, tudo desabitado - a lua fugiu do céu, o sol veste-se de luto e o silêncio enche-se de vazio por ser.
Bateram a porta por fora, carregaram as chaves num bolso esquecido da alma que emprestaram, ou que devolveram à morte que sobrevive.

Não me estragaram a vida, como senti na altura... apenas aumentaram a extensão de vazio que ocupa espaço, para que eu pudesse nesse vazio perder-me para me encontrar.
Desarrumaram-me uma casa que não sabia ter, trancaram o sol num roupeiro e arrumaram a lua numa gaveta sem estrelas, embrulhada num papel escrito na língua do silêncio - desabitaram-me. Desabitada, estragada na arquitectura que não sabia viver, sobrevivi, sobreviverei, como sempre.

Só me soçobrou espaço ocupado de vazio.
Sobrevivida ao vazio, saí bem mais apetrechada...
Hoje, vivo de braços abertos, sem medos... no caso de alguém me entrar em casa, me invada sem aviso, de chave mestra nas mãos feitas para só tratar bem, com um sol desempoeirado pendurado em cada gesto quente, um luar em cada olhar que me banhe, e cheio de beijos de alma que me habitem.
E que fique, e que eu queira que ele fique tanto ou mais do que ele queira ficar.
Que me habite sem hábito de certezas, na certeza que esse querer não é um hábito.
Que me habite com intensidade, com querer...e quando assim deixar de ser, que se vá embora.
Agora já não tenho medo desse vazio que fica...abraço-o e dou-lhe as boas vindas!

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