quinta-feira, 19 de março de 2015

GUITARRAS AO ALTO | TEASER



Em Novembro de 2014, Tó Trips e Filho da Mãe fizeram-se à estrada com paragens em Beja, Portalegre e Campo Maior.

Assim nasce o Guitarras ao Alto.
Um filme de viagem que acompanha dois guitarristas num processo de descoberta criativa.

Ao longo de três dias, tendo o Alentejo como cenário, encontraram-se perspetivas artísticas, descobriram-se novos públicos e exploraram-se aromas, sabores e texturas musicais.


Estou a ouvir, e ao mesmo tempo a tentar encontrar palavras para descrever o novo disco de Filho da Mãe - Cabeça, e ainda não encontrei melhor que o texto que vem assinado por Afonso Cruz (escritor, músico e produtor de cerveja).
Um dos melhores escritores da actualidade, na minha opinião.
Quanto ao Filho da Mãe, nome de palco do guitarrista Rui Carvalho, por incrível que pareça, fisicamente, agora que deixou crescer a barba, parece irmão gémeo do Afonso Cruz.


“Lembro-me de, em miúdo, olhar para o meu tio-avô a tocar guitarra.
As unhas encurvadas e amarelas dos cigarros, o cabelo branco e liso, colado à cabeça.
Não havia muitas perguntas, o mundo era simples.
Na verdade, aquilo que eu via não era um homem encanecido, dobrado sobre si mesmo, a dedilhar, era, isso sim, algo mais evidente, como haveria de perceber mais tarde: a guitarra e o guitarrista eram a mesma música.
Mas o nosso crescimento passa pelo arrefecimento do mundo, pela necessidade de o dissecar, de o enfiar no microscópio e em equações de terceiro grau.
O mundo começa a ganhar linhas rectas, torna-se geométrico, onde até as lágrimas são uma espécie de matemática.
Pitágoras dizia, e os seus seguidores, como aquele de Crotona, repetiam, que a música e a matemática são exactamente a mesma coisa. Uma oitava corresponde precisamente a 1/2 da corda da viola; a terceira nota natural é 1/3 da corda; e a quinta natural é 3/4.
E isto é apenas um pequeno exemplo de como as músicas que ouvimos são feitas de matemática, tal como as pedras são feitas de música e os nossos sentimentos são rigorosamente geométricos.
É assim que se compreende a música utilizando a razão.
Mas, lamentavelmente, não se ouve nada, não se sente nada.
Para isso é preciso fazê-lo com o corpo, que, sendo uma espécie de tabuada, não deixa de ser feito de terra e de entender essa linguagem que se escreve com uma pá.
Por vezes é preciso um filho da mãe capaz de nos colocar outra vez naquele lugar da infância, naquele espaço antigo, onde a guitarra e o guitarrista eram a mesma música.
Melancólico, o filho da mãe, consegue conjugar memórias, partindo de uma base que se repete e que se vai tornando cada vez mais complexa, como os pássaros fazem quando cantam.
Os ritmos cruzam-se, para cima e para baixo, como barcos a vencer tempestades, fazendo com que tudo se confunda, os ossos com a pele, o interior com o exterior, a sede com o vinho.
Não é só tocar, é escavar os sons e trazê-los para fora da guitarra.
E a música, com o seu poder catártico, faz-nos acordar.
Não há arte nenhuma capaz de nos fazer mover, mexer e dançar como faz a música.
Para que, no dia do Juízo, os mortos se levantem, serão necessárias trombetas.
Ou, sendo menos ortodoxo, guitarras.
Um quadro do Rembrandt não atinge os ossos, chega a muitos lugares, mas não faz dançar, não faz bater o pé.
Se há alguma coisa capaz de nos fazer levantar, dançar, exultar, de um momento para o outro, é a música.
Abre caminho pelas nossas veias, pelos músculos, é feita de carne e fala essa linguagem.
Todo o universo se move por causa da música das esferas, por causa dos acordes que Deus tocou no Início, dobrado sobre si mesmo, a dedilhar uma guitarra.
Tudo se move por causa de um filho da mãe.

Afonso Cruz




Filho da Mãe,
Palavras para quê, quando a música por si só emociona até à alma...
É caso para dizer "Não te Mexas" (um dos temas do disco) e deixa-te ficar a ouvir.


Resta-me apenas lembrar que o disco é uma edição de autor, logo, tem mesmo de se comprar!

Mas, para aqueles que não podem comprar tudo o que gostam, podem sempre ouvi-lo em:
http://filhodamae.bandcamp.com/


Em relação ao Tó Trips, palavras para quê...
Guitarrista dos Dead Combo, com vários prémios nacionais e internacionais com todo o mérito!!!!

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