segunda-feira, 11 de maio de 2015

A Saga do Robot…



No seu espírito de sacrifício, o homem transformou-se num robot que venera ainda vários deuses, pensando ser talvez alguém especial por o fazer. 

O homem-máquina é inconsciente e está confuso na sua arrogância e vaidade.
Na realidade, ele tem rituais e regras fixas e julga que nada deve ser diferente nas suas crenças e dogmas, pois tudo o que é diferente é estranho… e pode ser até perigoso. 

Quem gosta de ser diferente provavelmente deverá estar louco.
Se o robot não fosse semelhante aos outros poderia não ser aceite, e isso seria a última coisa de que quem nasceu com o espírito de sacrifício poderia querer. 
Tal divergência seria o mesmo que morrer sem honra – amaldiçoado pelo céu, ou mesmo pelo meio social – que poderia excomungá-lo e, até pela própria família - que o poderia rejeitar.
No fundo, ele só quer pertencer a um grupo, ser aceite, valorizado, amado.

No seu ilusório desvario confunde Evolução Espiritual com ter experiências místicas, ser maior, ser mágico, ter o mesmo poder que os deuses, esquecendo-se que a Espiritualidade significa Consciência e, que esta se refere ao Amor – começando sempre este pelo que temos por nós próprios, para podermos depois dar a mais alguém... mas o robot perdeu-se no tempo e continua a idolatrar os deuses dos circos da antiga roma, do clero, dos senhores do poder, do dinheiro ou mesmo da magia, talvez por superstição, por hábito, por ganância ou por medo.... e esqueceu-se do que é o Amor e a Alegria...

Entre os vários e diferentes robots modernos destaca-se o que venera o sacrifício de TER e que (des)constrói o que for necessário para manter este objectivo.
O templo moderno de adoração ao seu deus é forrado a ouro, crenças e preconceitos: para ser feliz precisa de ter muito dinheiro, ter status, um bom carro, ter poder sobre algo ou talvez mesmo sobre alguém, ter um bom casamento, um bom emprego, ter filhos, diplomas,talvez também um bom nível espiritual, ter tudo sob controle para nada perder, ter, ter, ter… 
No seu apetite voraz, algo destrutivo, constrói a sua grande lápide onde um dia irá ser sacrificado. Fica preso na mente, identificando-se totalmente com ela - ficando separado da sua Alma. 
Acredita só pela mente, mas não sente... 
O seu lema é: “Eu penso, logo eu existo. Eu tenho, portanto eu sou.“

Vive dos mesmos princípios, padrões, regras que vêm nos seus progenitores. 
É acompanhado pelos ancestrais - fantasmas dele ou doutros que o guiam alimentando-se das mesmas ideias. Se tal não o fizesse o robot moderno poderia sentir que corria o risco de ser rejeitado e, tal como um bebé, ele necessita de ser aceite pelos pais, avós, pelos guias que venera. 

Acredita nos mesmos princípios e também quer ser aceite, reconhecido, amado. 
Para isso tem regras e conceitos fixos, que serão os mesmos que se serviram os progenitores e, ele segue-os sempre - às vezes não muito conscientemente.
Por amor sacrifica-se (de diferentes formas) pela família… dando a vida por ela - por apego ou para ter o sentido da pertença.
Prefere só Ter, esquecendo-se muitas vezes de Ser ele próprio e muito menos ainda de Estar simplesmente. 
Raramente se lembra de quem verdadeiramente ele é ou mesmo de que na realidade está vivo.
Talvez se recorde no momento de partir quem foi ele durante o período em que aqui esteve - um escravo das regras da vida, repetindo princípios, tabus e experiências de familiares que o precederam, não sabendo que no seu "sacrifício" constava sim criar uma nova realidade construída por ele.
Sente então que repetiu algo e que deveria Estar simplesmente com a sua Essência.

No fim dos seus dias às vezes tem a sensação de que perdeu tempo, surge o medo do (sacrifício do) ritual da morte, porém já é tarde para poder voltar atrás.
Ao terminar o tic-tac do seu relógio fica por vezes confuso, revoltado, não aceita.
Mesmo depois do tempo parar não sabe o que aconteceu… fica perdido entre dimensões ilusórias e estranhas, sem compreender o que fez e onde está...
Afinal o deus que venerou não existe para o compensar... e sente-se iludido com a mentira.

Sim, no seu percurso esqueceu-se de que tudo está certo e nada errado. 
Porém, por detrás das suas regras de sacrifício – da rigidez dos seus conceitos (ou preconceitos), dos seus tabus ou crenças de família, escondiam-se as culpas e os medos – sendo estes muitas vezes invisíveis… mas sendo imensos no espírito do sacrificado.

Poderíamos entre eles salientar o medo de não TER, de não ser aceite, de não ser amado ou de não amar, de ser diferente, de divergir dos padrões, de se expor – pois poderiam reconhecê-lo como ser frágil que é, também o medo da morte (ou de que alguém morra), de ficar sozinho, de ser abandonado, do seu próprio poder, do sofrimento ou da dor, da maldição (sim... poderia cair-lhe o céu em cima da cabeça), talvez do desconhecido, ou mesmo de tomar consciência de quem ele verdadeiramente é – pois poderia não gostar, envergonhar-se. 
Também sente às vezes o medo de acreditar – e de poder sofrer, de poder perder, de não merecer. Não raro também o medo de Deus – pois se Ele é real também o inferno poderia existir.

Enfim, o sacrificado perdeu-se como escravo dum infindável número de medos devido às realidades que criou ou onde nasceu, os quais transporta como pesos, arrastando-os no labirinto do dia-a-dia… tal como contratos ou acordos feitos com regras fixas, que aprisionam o homem num ritual repetitivo inconsciente com fantasmas dum passado que ele não quer recordar… ficando preso nele e, pela lei da atração, atraindo aquilo que mais teme...

Mas sim, todos nós - sem nos apercebermos por vezes - perpetuamos alguns sacrifícios connosco que conviria tomar consciência da sua existência.
A pergunta fulcral que devemos fazer, depois de serenar a nossa mente seria:
Em que aspecto da minha vida é que estou eu a sacrificar-me, sem me aperceber? 
Em que momento da mesma é que me transformei num robot?

Depois de sentir a resposta, poderíamos então colocar a pergunta seguinte:
O que precisaria eu de mudar interiormente para gostar de ESTAR totalmente aqui, ser simplesmente eu e estar feliz?

Benjamim Levy 

Sem comentários:

Enviar um comentário