segunda-feira, 4 de maio de 2015

Politiquices



"Embora sejam esferas autónomas da acção humana, política e religião se misturam tanto no que diz respeito aos recursos práticos.
Na verdade, a política não pode prescindir plenamente da religião e, em certas circunstâncias, o discurso religioso cumpre uma função claramente política.
Dessa forma, o dissidente político passa a ser tratado como o herege, merecedor de todas as punições; os que não aceitam o poder político imperial e hegemónico passam a ser classificados como representantes das forças do mal; os que defendem a ordem social vigente não titubeiam em demonizar os seus oponentes; o mal é incorporado no outro.
A linguagem maniqueísta transforma o bem em mal e vice-versa.
Pois o que representa o paraíso para uns, pode ser o inferno para outros.
Nesta senda, a política é pensada como a luta entre o bem e mal".

(...)

Todo o ser humano na posse ou sob o domínio de uma doutrina está condenado a viver e a actuar falsamente.
Ser verdadeiro e viver na verdade quase nunca se encontram.
É que o ser humano ficou para sempre pervertido pela "ideia", quer dizer, pelos simulacros.
(...)
O que falseou tudo foi a cultura histórica.
Já ninguém se interroga sobre Deus, mas antes sobre as formas de deus, sobre a sensibilidade e a experiência religiosas, e não mais sobre o objecto que as justifica".

EMIL CIORAN
in, Cahiers 
1957-1972

Sem comentários:

Enviar um comentário