terça-feira, 9 de junho de 2015

Sobre o Eu



O que vimos até agora?
Que o eu é construído, baseado principalmente em memórias, não sendo estável.
Você acredita nele e acha que é importante.
Pior que isso, quer continuar existindo para sempre e por isso vem procurar palestras espirituais, porque tem a mesma angústia de Buda (velhice, doença e morte) e quer uma solução para a morte. Por isso os homens inventam religiões.
E nas religiões os homens continuam existindo depois de morrer.
Quando Bodhidharma pergunta e pede para mostrar a alma e Hui-K'o não sabe mostrar, ele diz “já te despertei”, pois ele mostra uma coisa muito mais profunda do que ter uma partícula permanente que sobrevive à morte. Ele mostra que, na realidade, o eu é uma ilusão e que nós pertencemos a uma algo muito maior e estamos acreditando no eu, e por isso não despertamos, por isso temos medo da morte.

Se nós compreendermos verdadeiramente o que é o eu, nem nascimento nem morte tem mais sentido.

Então, vamos fazer uma analogia: nós vemos o mar, as ondas na superfície do mar.
O mar existe sempre, as ondas surgem e desaparecem, certo?
O mar é eterno, as ondas não.
Se as ondas souberem que elas não são ondas separadas e sim o próprio mar, elas livraram-se do nascimento e morte das ondas. Pois quem acredita no nascimento e morte das ondas deveria chorar na praia a cada onda que morre.

Por que os homens choram quando uma pessoa é velada?
Porque acreditamos nos eus.
Como acreditamos nos eus, nós choramos.
Como essa angústia é muito grande, criamos crenças de sobrevivência pós morte, porque acreditamos numa ilusão chamada eu. Isso é budismo mesmo. Isso é verdadeiramente budismo. Por isso podemos saber porque budismo não fala nem em deuses e nem em almas.
Essas também são construções nossas para fazer com que o eu sobreviva.


Monge Genshô


Eu desde que comecei a sentir assim, deixei de ir a funerais, deixei de pensar na morte, e deixei de dar tanta importância à minha identidade.
Passei a sentir uma necessidade enorme de saber qual o meu percurso como alma, e através da regressão, curar feridas internas do meu subconsciente, bloqueios que nem imaginava ter, e aceitar que este eu com o qual eu me identifico associado a este corpo é apenas uma passagem.
Quando eu der o meu último sopro de vida, esta Susana deixa de existir, regressa a Casa, ao Vácuo Cósmico como energia com as suas memórias, os registos akáshicos de tudo o que já vivenciou ao longo dos séculos, nas sucessivas vidas passadas.
Mas não como Susana, mas sim como energia.
A Susana existe apenas momentaneamente...desempenha a sua função, a sua missão, e é só.
É apenas uma Onda, que se forma e se desvanece no imenso Oceano que sou.

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