sexta-feira, 5 de junho de 2015

Uma Mulher sem Areia Nenhuma



Tenho o santo horror da frieza calculada, da boa educação, do prudente juízo duma mulher.
Aos homens pertence tudo isso, e a mulher deve ser muito feminina, muito espontânea, muito cheia de pequeninos nadas que encantem e que embalem.
Meu amigo, se esperas ter uma mulher sem areia nenhuma, morres de aborrecimento e de frio ao pé dela e não será com certeza ao pé de mim...
Comigo hás-de ter sempre que pensar e que fazer.
Hás-de rir das minhas tolices, hás-de ralhar quando elas passarem a disparates (hão-de ser pequeninos...) e hás-de gostar mais de mim assim, do que se eu fosse a própria deusa Minerva com todo o juízo que todos os deuses lhe deram.

Florbela Espanca 
in, "Correspondência"

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