quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Guerra Junqueiro há 118 anos...



Um retrato de Portugal 
feito por Guerra Junqueiro há 118 anos!


"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula,não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
A justiça ao arbítrio da Política,torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."
             
Guerra Junqueiro
1896 



Dizer que nada mudou, parece-me um exagero...vive-se de forma diferente neste Séc XXI...
Mas, as mudanças escravizaram muito os portugueses...agora que não há censura, que há liberdade de expressão...já nem pensar pelas próprias cabeças os tugas se dão ao trabalho...
Sejamos realistas: a população portuguesa, na esmagadora maioria, é inculta, alheia e desinteressada do que é realmente importante.
Lê-se pouco em Portugal e o pouco que se lê é de má qualidade.
A televisão é muito má e mesmo assim tem audiência garantida para programas abaixo de lixo.
Vive-se uma sofreguidão futebolística como se não houvesse mais vida para lá da bola.
Apoiam-se partidos e figuras políticas apenas pela cor...
E o síndrome do queixume já se tornou há muito isuportável de ouvir!
E isso acontece porque temos uma mistura perfeita de governantes abusadores com povo mentecapto.

É uma pescadinha de rabo na boca da qual é praticamente impossível fugir.
A educação nacional está feita de maneira a guiar as pessoas a este estado geral.
A Escola está pensada e articulada com o Jornalismo em geral e os "fazedores de opinião", de forma a manter o sonambulismo geral da população portuguesa.
Há uma vontade clara em manter a neblina cultural, erudita, enfim filosófica, sobre o povo português; os nossos políticos não querem um povo pensador e activo!
A pior ameaça a este conforto da classe poderosa é um povo de livre pensadores e vontades firmes.

Porque se houvesse uns milhões de portugueses que largassem as novelas e os jogos da selecção e começassem a juntar ideias sobre como desenvolver o país, levando ao extermínio do actual sistema político/económico e colocando no poder pessoas capazes com provas dadas de inteligência e integridade moral, a situação seria como bola de neve que se transforma em avalanche!

Mas não somos capazes disso e "eles" sabem.
Houve o 25 de Abril e o povo não soube tirar partido, porque já nessa altura viviamos manietados de ideias. Teria sido uma boa altura para limpar o país, mas não aconteceu.
E hoje temos os herdeiros desse golpe de Estado na gestão do plano que se impôs.
Temos imoralidade, corrupção e todo o tipo de crimes que passam impunes a quem manda em Portugal.

E temos tudo isso com total permissão de nós todos, 
fracos na vontade e sempre à espera 
que um herói nos venha salvar.
Não há heróis!


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