quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Nunca amamos ninguém




“Nunca amamos ninguém. 
Amamos, tão-somente, a ideia que fazemos de alguém. 
É a um conceito nosso - em suma, é a nós mesmos - que amamos. 
Isso é verdade em toda a escala do amor. 
No amor sexual, 
buscamos um prazer nosso dado por intermédio de um corpo estranho. 
No amor diferente do sexual, 
buscamos um prazer nosso dado por intermédio de uma ideia nossa.”

Fernando Pessoa



"Este extracto de Fernando Pessoa vem de encontro a uma realidade... que talvez para algumas pessoas pareça estranha, devido ao conceito que se confunde entre a palavra Amor e prazer.
Comecemos por questionar se será que na realidade o ser humano poderá amar alguém quando não se ama a si próprio - à sua Essência, o seu destino - ou a verdadeira Força da Criação, o seu Inconsciente - interior e desconhecido, ou mesmo algo mais simples: o seu nascimento neste planeta, no ambiente onde foi concebido – ou de quem o fez vir a este mundo?

O que acontece é que cada indivíduo procura encontrar no objecto do Amor aquilo que traz como um conceito aprendido e gravado na mente – tal como um programa criado num computador químico – existente no inconsciente, que vem do Infinito (Alma) para o Finito (Matéria). As regras sobre o que definimos como Amor são assim recriadas em cada um de nós...

Todos estamos a aprender o que será verdadeiramente o Amor Altruísta, do desapego.
Confundimo-lo na maioria dos casos com necessidades pessoais, carências, sexo, sentimentos de protecção, amizade, hábitos, acordos, empatias, ou mesmo semelhanças do nosso Ego ou do nosso corpo de dor com alguém.
Até o controle, o medo, ciúme ou ódio são confundidos com o Amor nalguns dos casos.

A necessidade de ter uma paixão (ou ilusão) é muito comum no ser humano e pode mesmo tornar-se obsessiva e aproximar-se duma evasão - duma fuga às suas verdadeiras realidades... que escondem muitas vezes o indivíduo não gostar de si próprio, projectando no outro aquilo que gostaria de ser ou de ter - na maioria dos casos escondendo não querer ver nem aceitar aquilo que o outro é, nem o que ele próprio será – muitas vezes escondendo uma esperança camuflada de poder mudar algo ou alguém.

Engloba sempre não ver a Verdade no outro...
Nesta forma de ser também podemos encontrar os adictos do amor – entre os diferentes vícios que podem existir na mente humana. É muito normal nos adictos em relações amorosas terem crises de medo da perda do seu objecto do amor, entre outros aspectos…

Por outro lado...
No seu processo de evolução o ser humano gosta de definir uma separatividade entre o bem e o mal, confundindo estes conceitos com prazer e dor, amor e ódio - muitas vezes não sabendo onde começa e acaba a ténua linha entre cada um deles… pois ainda está a aprender o que é o verdadeiro Amor.

Será que por exemplo, amarmos simplesmente o ter prazer, poder-se-ia enquadrar em estarmos a viver o verdadeiro Amor?

Sim, viemos para usufruir.
Mas até que ponto a nossa obsessão pelo prazer, de ter ou de querer usufruir o prazer da vida não poderá estar a fazer esquecer-nos de algo?
Onde termina o querer Ter e simplesmente Estar?
Naturalmente que tudo faz parte da nossa experiência…

No entanto querendo ainda dar uma ideia diferente - será que o verdadeiro Amor separará aqueles que eu julgo amar dos outros que não conheço, ou de outras formas de vida – e que simplesmente são diferentes de mim?
E até que ponto posso amar alguém se não aceito as diferenças que existem em mim, no meu lado sombra – e a dos outros?
Porque permito que o meu Ego interfira no meu Coração?

Permitam-me no entanto, relembrar mais uma vez que, do meu ponto de vista, o nosso próprio Eu deverá estar sempre nas prioridades de quem devo amar e aceitar em primeiro lugar.

Amor - qual é afinal o conceito que definimos dentro de nós para esta palavra tão usada e divulgada?"


Benjamim Levy

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