segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Poema Taoísta



Poema Taoísta
Wu San Dji Tao


No início, a criação. O céu e a terra.
Os dois se tocam formando o homem no meio do céu e da terra.
A natureza e todas as coisas, o todo unido e simbolizado pelo Tao.
O homem sai em busca do conhecimento.
Ele o conquista e traz para si, para o seu interior,
e tudo que aprende ele devolve ao mundo, através de seus actos,
recebendo em troca a sabedoria. O homem aprende e abre o seu coração.
E quando o coração está aberto, pleno de bondade e quietude,
os pássaros vêm cantar em seu jardim.
Parte em busca de novas fronteiras e nessa busca 
procura os céus que generosamente lhe concedem mais sabedoria
que ele incorpora, e procura transmitir ao mundo.
Mas muitas coisas o mundo não compreende e o agride, 
ele se defende e retira todos os obstáculos de seu caminho.
Como a cegonha, ele limpa seus obstáculos,
e prossegue seu caminhar pelo mundo.
E se depara então próximo ao mar.
Senta à beira da praia e observa o fluir das ondas em seu contínuo ir e vir
e compreende que sua vida se assemelha às ondas,
em seu constante ciclo de ir e vir.
Se levanta e continua o seu caminho.
A seguir, começa a observar os animais. 
O homem que se julgava a maior e melhor obra da criação
inveja a liberdade do voo das aves,
mas para a conquista desta liberdade o homem deve sair para a luta
e enfrentar os desafios da vida, lutando como um tigre na floresta.
Ao caminhar pela floresta o tigre não faz barulho,
ele é silencioso, tão leve quanto o bater das asas de uma ave.
Assim deve ser o homem e sua caminhada pelo mundo.
Caminhar sem fazer barulho algum, sem fazer alarde,
viver sua vida com naturalidade estando sempre em profunda perfeição.
E assim continua seu caminho indo em todas as direcções,
buscando experiências diversas, andando, expandindo-se,
interagindo com a natureza que o cerca.
Mas a vida do homem é muito turbulenta e ele baila frente às dificuldades.
Ora se encontra no céu ora nas mais tortuosas e profundas dores da terra,
mas quando se está no fundo o único caminho é para cima.
Então o homem volta-se para o céu
e retorna à terra prosseguindo a sua jornada, almejando novos horizontes.
Neste momento ele se encontra no ponto importantíssimo de sua caminhada.
Ele se depara com uma montanha.
A montanha simboliza um grande obstáculo 
de cada um de nós que deve ser enfrentado.

O discípulo do Tai-Chi não fugirá da luta, jamais.
Pois sabe que a montanha e todas as coisas que surgem no seu caminho
são elementos de aprendizado para sua experiência na terra.
Libera sua força e ataca como um tigre e se defende como tigre,
usa energia de seu interior e a expande.
Prossegue sua jornada lutando,
estando sempre no limiar de situações aparentemente antagónicas.
O homem agradece este presente dos céus e regressa à terra.
E nisso, surge um lago de águas calmas e brilhantes
simbolizando um problema do interior do guerreiro,
um problema espiritual, que não pode ser enfrentado com socos e pontapés.
O sábio, ao encontrar o lago, caminha com uma máxima suavidade,
por sobre as águas, tornando-se leve como o vento, leve como um espírito,
atravessando até chegar à sua margem e então ele olhará
para o lago e para os novos horizontes. 
Continua o seu caminhar, porém seus passos não são como de início.
São mais belos e harmoniosos apreciando novas situações.
Até que o nosso caminhante se depara com o bruxo, o mago,
a personificação do medo do desconhecido.
O bruxo somente estará morto pela flecha da sabedoria,
removendo o sentimento de terror e ignorância que caia na consciência dos homens.
Depois de ter enfrentado seus fantasmas, o nosso venerável guerreiro 
caminha guiado pela sua consciência e encontra o monge,
o mestre, o sábio, que aponta uma nova direcção, mudando o seu rumo.
Ele segue esta orientação tranquilo. 
Porém, no terceiro passo, ele se depara com um abismo e decide saltar,
retornar é o caminho dos covardes.
O nosso guerreiro se encontra no fundo do abismo envolto pela escuridão
e como uma serpente ele rasteja pela lama do fundo do abismo
sem ver uma direcção a seguir, rastejando; sujando-se de lama, ele percebe
que, como uma serpente, deve levantar-se, erguer-se para avistar novos horizontes.
Neste momento ocorre a morte do velho guerreiro.
E o nascimento de um novo homem que observa no horizonte distante uma luz
e resolve ir na sua direcção, porém percebe algo estranho,
quanto mais ele caminha na sua direcção mais ela se afasta.
Então ele pára e medita, e decide caminhar em direcção oposta, 
caminhando para o seu interior. 
Procurou tanto nas coisas externas
e quando ele se volta para o seu interior ocorre a iluminação.
A felicidade brota no seu ser e ele está livre para alçar o voo,
como uma gota de água no oceano que se evapora,
cai com a chuva formando os rios;
mas não há outro destino senão retornar ao grande oceano.
Liberto ele voa retornando ao lar, retornando ao grande Tao.
E este homem já não sabe mais o que é o céu
nem a terra, pois ele é toda a natureza,
tudo que está à sua volta são uma coisa só.

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