sábado, 7 de novembro de 2015

O que eu tenho, e o que eu quero




O fosso que existe 
entre as nossas expectativas e a nossa realidade 
é o que nos causa stress e ansiedade. 
É nesse fosso que vivem as ilusões/desilusões, 
os medos, a revolta, a vitimização 
e outros poderosos monstrinhos interiores.


Infelizmente a maioria ainda vive preso a expectativas muito altas de conseguir atingir ideais de sucesso, poder, riqueza, perfeição que na maioria apenas alimentam uma frustração sem fim pois uma energia invisível parece sempre boicotar esses esforços tão bem intencionados e trazer-nos à nossa vida o que tanto queremos evitar.

A maior parte vive sem noção nenhuma de que por trás da aparente liberdade que temos de lutarmos por ou de conseguirmos atingir esses ideais, há uma força maior que nos faz chegar nem sempre o que queremos mas sempre o que precisamos.
Ou seja, há um propósito muito maior para a nossa existência do que os nossos limitados desejos imediatos nos fazem acreditar. Muito mais do que acumular meia dúzia de tralhas, um emprego e uma família, há um trabalho pessoal interior, emocional, profundo e espiritual a fazer e esse sim irá sempre criar na nossa vida as condições que precisamos para que ele seja feito.

O ideal será então começarmos a olhar a vida sob essa perspectiva mais humilde que sempre questiona:

"Para que é que isto me está a acontecer?", 
"Por que razão fui encontrar esta pessoa?", 
"Como escolho responder a este evento 
sabendo que da minha acção 
virá uma reacção kármica idêntica de retorno?"

Achamos que vivemos numa sociedade dita "civilizada" comparada a tribos pelo mundo fora ou com países não industrializados. De facto temos acesso a máquinas maravilhosas, artigos infinitos que nos facilitam a vida e nos enfeitam a personalidade mas que cada vez mais servem para esconder o vazio interior, a frustração e a revolta de não só não conseguirmos adquirir os infinitos artigos que achamos que precisamos como quando conseguimos adquiri-los, sofremos ao perceber que não nos trouxeram a tão ansiada felicidade ou preenchimento do doloroso vazio.

Qualquer pessoa que já tenha viajado para países pobres e sub-desenvolvidos choca-se sem dúvida com o grau de pobreza e miséria desses locais e pessoas, mas percebe também que a maioria tem algo que nós não temos: a capacidade de aceitação das suas condições. Há uma rendição à vida, o viver o momento. A alegria que têm é real, vem das profundezas do seu ser e não produto final de um qualquer ter. O fosso entre aquilo que têm e aquilo que querem é mínimo. Materialmente vivem de facto aquém da sociedade civilizada. Emocionalmente são mais saudáveis.

Basta uma ida nossa a qualquer shopping para sentirmos essa frustração e a altura do Natal que se aproxima ainda agrava mais pois gostaríamos de encher de tralhas quem mais amamos projectando as nossas carências e necessidades materiais nos outros. Mais cedo ou mais tarde a vida convida-nos a parar para REalinharmos o mundo material e emocional. O equilíbrio surgirá quando a necessidade interior estiver alinhada com a possibilidade exterior. Quando fizermos as pazes com a vida e conseguirmos finalmente ver que é nas perdas e nos ganhos que a nossa balança equilibra e tudo serve apenas esse propósito.

A maior parte dos processos de cura começa precisamente aqui. Em ajudar cada um a identificar as suas projecções, a desactivar as suas buscas automáticas de algo que está fora para preencher o vazio dentro e permitir que a rendição se faça com a sua realidade. Perceber que por trás da dor, do evento, da aparente sorte, do acaso está uma rede inteligente que nos trás as condições ideais do que precisamos. Por exemplo a falta de dinheiro para comprar bons presentes convida-nos à criatividade, pede-nos que façamos chegar ao outro o amor que lhe temos de outras maneiras. Pede que valorizemos algo que antes tomávamos por garantido ou que nem sequer alguma vez valorizámos de todo.

Costuma-se dizer que o que é mau para o ego é bom para a alma e por isso numa realidade actual tão dominada ainda pelos desejos do ego, aproveitemos para tomar consciência das maneiras como afinal alimentamos a nossa alma.


Vera Luz

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