terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Se um dia regressares




Se um dia regressares, a terra estremecerá na memória
de tua ausência. E a água formará um vasto oceano no outro
lado do teu olhar.
Regressarás, talvez, quando o ar se tornar rubro em redor
do meu sono – e o lume das horas, a pouco e pouco,
saciar a boca que clama pelo teu nome.
Encontrar-nos-emos nas imagens deste jardim de
afectos e de ódios. Porque os jardins são labirínticas arquitecturas
mentais, onde podemos rasgar os corpos de
qualquer voragem do tempo.
Por isso, enquanto não regressas, construo jardins de areia e cinza, jardins de
água e fogo, jardins de répteis e de
ervas aromáticas, jardins de minerais e de cassiopeias –
mas todos abandono à invasão do tempo e da melancolia.
Mas se um dia regressares, passeia-te por dentro do
meu corpo. Descobrirás o segredo deste jardim interior –
cuja obscuridade e penumbras guardaram intacto o
nocturno coração.


Al Berto


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