sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Pobres prudentes...




Dizem que uma vida sem prudência é loucura.


De facto, somente um louco é capaz de, corajosamente, sondar a sua alma para descobrir que cautela excessiva é espelho de medos alheios.
Um louco decide rapar a cabeça e rapa. Escolhe trocar de emprego e troca. Entende mudar de país e muda. Gasta muito mais tempo a voltar a lanterna na direcção da sua alma do que na dos outros, pois compreende que as suas limitações são suas, as suas conquistas são suas e a sua vida é absolutamente sua.

Um louco de verdade não acredita no ridículo porque, intuitivamente sabe que a vastidão do mundo abarca tantas possibilidades quantas sejam possíveis existir. Quando se percebe tolo, ri de si com carinho e começa de novo, sem medo de errar ou vergonha do mundo…
É que este louco — quanta loucura! — entende que a dor engrandece, a humilhação ensina, a perda fortalece e o erro é a melhor de todas as escolas.

Há alguns séculos, a própria Loucura, pelas palavras de Erasmo, enalteceu a si mesma com sabedoria:
“Há duas coisas, sobretudo, que impedem o homem de chegar a conhecer-se: a vergonha - que ofusca a sua alma - e o temor, que lhe mostra o perigo e o desvia de empreender grandes acções. Ora, a Loucura livra-nos maravilhosamente dessas duas coisas”.

No palco da vida, quase todos os homens passam de uma coxia à outra, como um jovem soldado que vai para a guerra; sem compreender o seu sentido real, caminha rumo ao fim com passos firmes, recheados de vazio e dor. Afogados em prudência.
Pobres prudentes, que se resumem a preto e branco, censurando o arco-íris dos seus irmãos!
Pobres prudentes que fecham os olhos ao grande mar de vida dentro dos seus próprios corações!

Fossem mais insanos, dedicariam o seu tempo ao precioso conhecimento de si próprios.
Somente um louco é capaz de mergulhar em si e questionar o seu espírito com teimosia e curiosidade até compreender a fome que o move.

Torna-se então consciente das suas prisões e liberdades, e aí mora o grande segredo do seu riso: ciente do que o prende, consegue transgredir.
Apenas quem conhece as próprias prisões é capaz de libertar-se.

Ser louco é sobretudo não tornar os velhos hábitos um estilo, ser destemido para lançar-se nas ondas da vida, não se matar com opiniões de pessoas amargas, rasgar-se e remendar-se a cada dia e, acima de todas as coisas, ter coragem de ser fiel a si mesmo.

Troque de roupa, de ideia, de rumo ou de amor.
Livre-se de velhas dores, providencie um novo começo, peça demissão, enfrente medos antigos, dispense a coerência e respire novos ares.
Ninguém nunca disse que o caminho tem de ser recto.


Lara Brenner

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