domingo, 7 de fevereiro de 2016

O gato é uma lei em si mesmo



“O gato é uma lei em si mesmo.
Nunca perdeu o seu despótico ar de indolência e luxúria oriental.
Era demasiado feminino para os gregos, amantes do masculino.
Referia-me à invenção da feminilidade por parte dos egípcios, uma estética prática e social extraída do brutal feminino mecanismo da natureza.
O traje das aristocratas egípcias, uma requintada túnica de linho transparente, com pregas, só pode ser qualificado de cingido (…)
Elegantes são também os furtivos movimentos do gato durante a noite.
Os egípcios admiravam a macieza… "

In, Personas Sexuais 
Camille Paglia


"Os gatos têm pensamentos secretos, uma consciência dividida.
Nenhum outro animal é capaz de ambivalência, essas ambíguas correntes contraditórias de sentimentos, como quando um gato ronronante enterra ao mesmo tempo os dentes como advertência, no braço de alguém.
O drama interior de um gato ocioso é telegrafado pelas orelhas, que giram para um farfalhar distante enquanto ele repousa os olhos com falsa adoração nos nossos, e depois, pela cauda, que bate ameaçadora mesmo quando ele cochila.
Às vezes, o gato finge não ter qualquer relação com a própria cauda, à qual ataca esquizofrenicamente. A cauda a contorcer-se e a bater é o barómetro ctônico do mundo apolíneo do gato, é a serpente no jardim, trombando e triturando com maliciosa antecipação.
A ambivalente dualidade do gato é dramatizada nas suas erráticas mudanças de humor, saltos abruptos do torpor à mania, com os quais contém nossa presunção:
“Não chegue mais perto. Nunca se sabe”.

Camile Paglia



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