quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Sexismo - Narcisismo - Vampirismo - Religião




Se uma mulher é muito bela será usada até ao ponto do objecto.
Se uma mulher é muito inteligente será admirada, depois reprimida mas plagiada até ao ponto da anomia.
Se uma mulher for muito bela e muito inteligente sera idealizada até ao ponto da despersonalização, divinizada ou demonizada.

Sexismo não tem apenas que ver com género mas muito com as necessidades de fornecimento narcísico. Quanto mais fraco e ferido, sem sentido de Ser e de Si, se sente um género, mais odiará o outro. O vazio interior sempre produz vampirismo adoçante ou ódio predatório.

Existe um contra-narcisismo, a reacção vampirica.
Se não nos adoram, porque somos cinzentos e sem vida, partimos para a pilhagem do adorável à nossa volta. Um dos sonhos inocentes é a ideia de que se nos ligarmos a Fonte da Vida e ao Poder de Ser, e assim permitir em nós o Grande Brilho, as pessoas à nossa volta tornam-se melhores para nós, passam a apreciar-nos. Sim e não. Os que como tu acessam a Fonte Ígnea podem desenvolver um genuíno e humano sentido de apreço, prazer e alegria com a tua conexão.
Mas aqueles que não conseguem conectar-se com a Fonte quando vêm o Brilho em um ser humano, tendem a ligar os seus cabos psíquicos e a se potenciar com a conexão presente no outro.
Parecem admirar-te mas apenas te idealizam.
Mesmo que tu, que brilhas por teres acessado a Fonte, te ofereças, em generosidade bodhisattvica, energia e vida, para o mundo a tua volta, e possas "prover para todas as criaturas sencientes" o mundo tentará convencer te que a Fonte és tu mesmo.

Cultivar o teu narcisismo.
E assim destruir o teu trabalho religioso secreto.
E assim dissolver as tuas fronteiras.
E não só usar te como suprimento de vida mas como ecrãn da grandeza neles reprimida e depois, depois de te esgotar, abandonar te, como uma embalagem. Não é só o prazer de sugar do vampiro que compõe a formula, mas o prazer infantil daquele que se deixa drenar.

A necessidade de Significado deve ser um fogo que arde na direcção de um Centro em mim, e depois na direcção de um Fogo Maior, além de mim. Mas a necessidade de significado pode ser abduzida pela volúpia de existir ao "centro do mundo" sem existir ao "centro de si".
Desse fundo central negro emergem o racismo, o sexismo, o genocídio, o ecocídio, o consumismo: todos estes fenómenos irrompem da ansiedade primal de um ser que não aprendeu a Ser, que se sente em risco ontologico, e se sente vindicado quando invade a Fonte da Vida nos outros ou, inversamente, se deixa convencer de que ele mesmo é a Fonte.

Assim, e por isto, necessitamos da grande religião perene.
Porque dando um lugar verdadeiro ao humano e um lugar verdadeiro ao Divino opera como um regulador do narcisismo, um doseador da criatividade e um significador puro entre o tempo e a eternidade.
Na verdade todo o conhecimento é mapa, mas o Templo marca o lugar do tesouro.
O Templo é o lugar do sentido e do significado.
A cura exactamente do pan-narcisismo contemporâneo e o bálsamo para o ser humano em inanição de Vida.

André Louro de Almeida



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