segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Era uma vez… A minha pessoa!




Para todos os eternos românticos que ainda resistem em dar inicio ao seu processo de cura no que toca à expectativa de encontrarem a sua “cara-metade” ou uma perfeita-história-de-amor-para-sempre, deixo algumas questões que me apanho tantas e tantas vezes a abordar e a repetir:

Curiosamente vou observando ou melhor ouvindo, ou mais correctamente ainda, sentindo uma idêntica melodia depressiva cantada por todos, apenas em tons e instrumentos diferentes;

Os que estão acompanhados queixam-se de que “o outro” não é-faz-diz-pensa-acredita-preenche o que lhes falta.

Os que estão sozinhos queixam-se que não têm ninguém que seja-faça-diga-pense-acredite-preencha o que lhes falta.

Conclusões?!

Sim, muitas queixas e todos em falta!


  • Não será a carência então a doença mais comum ao ser humano?
  • Onde afinal aprendemos ou nos ensinaram que a cura para a carência está algures fora de nós?
  • Quem nos vendeu afinal o conceito de que alguém nos “deve e não nos paga” ao ponto de acharmos que temos o direito de exigir, cobrar e reclamar servidão, atenção, gratidão ou reconhecimento seja de quem for??
  • Quem são as nossas referências quando precisamos de nos inspirar em alguém que já superou essa tão persistente, invisível e desconfortável moléstia de que todos padecemos?
  • Será que a Lua, esse tão visível e próximo corpo celeste, a representante simbólica desse doloroso “Vazio da Alma”, foi colocada estrategicamente junto a nós para que trabalhássemos a sua simbologia emocional e carente enquanto estamos neste Planeta?
  • Terá o Sr. Disney feito uma mossa tão grande quando nos vendeu a ideia de que um dia alguém perfeito, com uma coroa na cabeça, iria aparecer na nossa vida para nos amar e fazer felizes para sempre?? Ou não será que a mossa já cá estava e ele apenas as ilusões relacionadas com essa “doença” que insistimos em manter?
  • … o que faria afinal uma alma encarnar, abdicar do seu caminho pessoal, abafar o seu próprio brilho, perder parte do seu valor para vir apenas agradar, amar e suprimir todos os desejos, necessidades, carências e caprichos de alguém (quem gostamos de acreditar que é uma alma-gémea) e viver numa eterna anulação própria de modo a corresponder às constantes alterações emocionais do outro, à elevadíssima expectativa de constante fidelidade, mantendo-o sempre em estado de amor e felicidade permanente??
  • …e que ser seria esse que viveria num estado tal de “aspiração” do que o outro lhe traria a cada momento, criando cada vez mais expectativas, desejos e quereres, numa fome insaciável de atenção, alimento físico e emocional e adoração vivendo apenas para criar mais e mais dependências e seus respectivos esquemas manipuladores para manter todos aqueles vícios??
  • e não fomos já todos nós um ou o outro em determinado momento das nossas vidas?!
  • Será que estas duas posturas não são afinal a representação perfeita da dinâmica entre uma mãe e o seu recém nascido?
  • Não será essa ânsia de relação excessivamente romantizada uma necessidade em nós, num inconsciente e eterno saudosismo ou mesmo para alguns uma ausência total de uma dinâmica saudável e amorosa, aquando do nascimento?


Relações de inter-dependência, exigência e constante cobrança entre dois adultos acabam então por ser uma dança onde tentaremos recriar aquela primeira relação de amor e onde iremos alternar entre o papel do “cuidador” e o papel do “receptor”.. e qual das duas mais dependente do outro? 
Ambas! 
Seja ela uma relação maternal, paternal, romântica, ou outra.

Nesta desgastante dança imatura, infantil e instintiva não há liberdade, não há brilho, não há espaço, não há consciência, não há crescimento, não há oxigénio. Apenas um circuito fechado alimentado por uma carência sem fim e altamente reactivo caso algo ou alguém o ponha em causa. Seja o bebé com a falta da mãe seja a mãe sem o seu bebé.

Da mesma maneira que um bebé grita quando lhe falta algo que depende do cuidado da mãe, também nós em adultos disparamos quando nos falta alimento emocional numa cega projecção do teatro idealizado vivido com a mãe e da noção inconsciente de que existe um ser que vive para cuidar de nós. O corpo cresceu, a nossa vida mudou, a criança em nós mantém-se igual. Aquela energia infantil recusa-se a largar a mama… por mais seca que ela seja!

Até que um dia, num qualquer momento cósmico, numa determinada vida, dá-se um maravilhoso despertar sagrado. A luz finalmente entra onde antes só havia trevas que nos condicionavam à roda da repetição cega.

Nesse momento de consciência, ela é convidada a crescer. E para crescer vai ter que passar por uma dor tão ou mais forte do que a dor do (re)nascimento que passou quando encarnou.

Só que agora temos o que não tínhamos antes, pois a vida preparou-nos para aquele parto tão especial e tão emocional.. Agora temos uma consciência, temos liberdade, temos escolha e temos Sabedoria. Temos ferramentas universais para nos ajudar a crescer.. a amadurecer .. a evoluir .. a superar aquele padrão de carência e dependência que arrastámos durante vidas seguidas. E tal como um nascimento físico por mais assustador que ele seja, não podemos evitar ou voltar atrás...


  • Não serão então as dores que todos andamos a sentir no campo do amor, o tão difícil desapego daquele velho padrão? 
  • Não terá então chegado o tempo de finalmente assumirmos a responsabilidade pelo nosso crescimento? 
  • Não serão as frustrações sinais óbvios para sairmos daquele frágil e dependente berço e aprendermos a caminhar sozinhos e a nutrirmo-nos a nós próprios?


Acredito realmente que chegou o tempo “ir para escola”.
Chegou o tempo cósmico de largar a saia da mãe e enfrentar o mundo.
Chegou o tempo de sair do ninho e ir aprender coisas novas, sociabilizar, sentir a nossa individualidade perante o grupo lá fora e aprender maneiras mais maduras e independentes de relacionamento.
Chegou o tempo de largar aquela inter-dependência mãe/filho e alargar o círculo para o mundo pois é fora da zona de conforto que iremos realmente descobrir quem somos.

Aprendemos a andar de bicicleta e descobrimos a arte do equilíbrio so-zi-nhos!.

Ninguém o pode fazer por nós. 
Existe uma dinâmica funcional entre nós e a bicicleta que quando em movimento nos obriga a manter sempre o centro e constante equilíbrio.

Levemos então esta aprendizagem para as nossas relações e não aceitemos “penduras” na nossa vida mas apenas quem já anda de bicicleta também.
Para isso usemos a Liberdade, a Escolha e a Coragem de dizer sim ou não conforme cada situação, dependendo de quem respeita o equilíbrio da nossa bicicleta ou pelo contrário tráz a ameaça de nos atirar ao chão.


Vera Luz



Sem comentários:

Enviar um comentário