terça-feira, 25 de abril de 2017

A Esperança





Injeta sangue no meu coração,
enche-me até ao bordo das veias!
Mete-me no crânio pensamentos!
Não vivi até ao fim o meu bocado terrestre,
sobre a terra
não vivi o meu bocado de amor. 
Eu era gigante de porte, mas para quê este tamanho?
Para tal trabalho basta uma polegada.
Com um toco de pena, eu rabiscava papel,
num canto do quarto, encolhido,
como um par de óculos dobrado dentro do estojo.
Mas tudo que quiserdes eu farei de graça:
esfregar,
lavar,
escovar,
flanar,
montar guarda.
Posso, se vos agradar, servir-vos de porteiro.
Há, entre vós, bastantes porteiros?
Eu era um tipo alegre,
mas que fazer da alegria,
quando a dor é um rio sem vau?
Em nossos dias,
se os dentes vos mostrarem 
não é senão para vos morder ou dilacerar. 
O que quer que aconteça,
nas aflições,
pesar...
Chamai-me! 
Um sujeito engraçado pode ser útil. 
Eu vos proporei charadas, hipérboles e alegorias, malabares 
dar-vos-ei em versos. 
Eu amei... mas é melhor não mexer nisso. 
Sentes-te mal?




Vladimir Maiakovski







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