sábado, 22 de abril de 2017

Neurose Obsessiva





“Como se sabe, a neurose obsessiva, com seus escrúpulos e obsessões de cunho cerimonial, não tem só a aparência de um problema moral; interiormente é cheia de desumanidade, criminalidade e maldade implacável, contra cuja integração a personalidade resiste desesperadamente; de resto esta ultima pode ser bem suave e organizada. O motivo pelo qual tantos atos devem ser realizados de um modo cerimonial e “correto” é a suposição que representam o contrapeso diante do mal que ameaça por dentro. “ 
Carl Gustav Jung
in, Estudos Sobre a Psicologia Analítica



A parcimónia e todas as atitudes cerimoniosas da neurose obsessiva não são só manifestações de hipermoralidade, são também um trabalho defensivo (formação reativa), a fim de transformar no seu contrário, comportamentos e sentimentos sádicos e cruéis, dirigidos a si próprio, ao ambiente e ao outro.
Contudo, a consciência da realidade mantêm-se, a par de um eu dividido com uma outra parcela relacional e lógica (bem suave e organizada), o que acarreta sofrimento e culpabilidade para o próprio, por terem noção do quanto o seu comportamento é inadequado e não conseguirem controlá-lo.
Mas, o que me interessa aqui é apresentar um breve apontamento sobre o estilo de comunicação dos obsessivos - o estilo relacional é de cariz sadomasoquista, ambivalente. 
De acordo com Boris Cyrulnik, em "O Nascimento do Sentido", falam com abundância (hiperinvestimento do pensamento em detrimento do agir), e ao ouvi-los, vamo-nos apercebendo que fazem rodeios e não conseguem dizer o que está em causa. Mantêm um olhar fixo em nós, sem manifestação das pequenas expressões que nos fazem confiar que nos levam em conta. Se param para respirar, e aproveitamos para os levar a se focarem no cerne da questão e no nosso ponto de vista, sobem o tom de voz para o impedir - controlo tirânico e ditatorial, rígido e inflexível, que pode levar à agressividade verbal.
Se temos dificuldade em identificar as características fundamentais da estrutura, pensemos nas atitudes de preocupação excessiva pela organização, perfeccionismo e controle interpessoal, inúteis, que bem dificultam não só a nossa vida privada, mas também, por exemplo, nos balcões de atendimento ao público, nas situações em que as razões apresentadas não são nem auscultadas nem atendidas.


Cristina Simões
in, Incalculável Imperfeição



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