segunda-feira, 7 de agosto de 2017

O fim dos tempos, pelo menos, desses tempos…


Kyle Thompson




Tenho ouvido muito e reproduzido por concordar que estamos numa época sombria.
Por todo canto, tem coisa dando errado: o sofrimento dos refugiados, as guerras entre países, a violência na nossa cara, os direitos humanos sendo desrespeitados, o meio ambiente sendo violentado, a corrupção nos comendo não só pelas beiradas, mas o corpo inteiro…. Não terminaria nunca essa lista de coisas ruins que estão acontecendo no mundo.

Realmente, é o fim dos tempos, pelo menos, desses tempos…. era o que eu andava dizendo por aí, até que li outro dia uma pessoa olhando isso tudo de outro jeito. Discordei de mim mesma e passei a dar razão a ela: estamos num tempo de luz, de mais luz, muita luz.

Ela fez uma comparação com um porão escuro, com uma lâmpada fraquinha no meio a iluminar mal e porcamente o local. 
O que está ali, amontoado, juntando rato, poeira e mofo quase que não vemos de tão pouca luz. Podemos até pensar que o porão está organizado e limpo, pois não vemos nada além.
Mas, de repente, colocamos uma lâmpada super potente e o porão se descortina à nossa frente. Podemos ver tudo, a sujeira, os perigos, os podres, o lixo, a feiura toda se ilumina e a gente tem a noção da realidade do porão.

Sob a luz, temos muito mais condições de separar o que presta do que precisa ser descartado, jogar fora todo o lixo inútil, aproveitar o lixo útil e transformá-lo em outra coisa, varrer, tirar o pó, arejar o espaço e recolocar tudo nos seus devidos lugares. Um novo porão pode nascer daí.

O que está acontecendo no mundo – muito pela tecnologia da Internet que multiplicou nossa capacidade de olhar para tudo – é bem semelhante a isso. Ocorre que estamos nesse momento na hora da faxina e ela está levantando muita poeira, causando medo dos bichos escondidos no porão, dando alergia do mofo, cansando-nos de ver tanta coisa para ser limpa.

Estamos na fase mais difícil da limpeza, a de por a mão na massa, identificar o que presta, se lamentar pelo que apodreceu, culpar-nos ou procurar culpados por ter deixado tudo aquilo chegar naquele estado. Muita mão de obra! Tem hora que a gente acha que não vai dar conta, que é muita coisa junta para ser tratada, que o tempo não será suficiente.

Mas depois dessa faxina, certamente, o porão ficará habitável, salubre, agradável. 
Mas tem que trabalhar muito para isso, começando pela nossa própria conduta pessoal.
Se eu quero limpar o porão do mundo, tenho que começar arejando minhas próprias estantes, varrer o meu chão e tirar do ambiente tudo o que possa sujar nosso mundo particular e o mundo a nossa volta.


Célia Rennó





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