segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Fogo






A tua beleza é o cano de uma espingarda encostado à minha têmpora.
Como as tuas mãos folha-de-estanho me cegam, por isso te
toco - procurando saber onde estou.

Porém o teu corpo se dispara, e então eu sou a paisagem posta a um
canto para entrar a música. Sou um braço solto com a pulseira
em rotação, fita amarela nos cabelos da morte, madeira para o 
lume da tua boca. 

Debaixo dos holofotes da loucura, os anjos caem aturdidos. Assim
nós, carnais pelo excesso de luz , veia de pólvora que rebenta na
cabeça da solidão.

Beija-me, beija-me com o fogo das noites em branco.


Vasco Gato




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