terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Movimento do braço





Lenta passagem, evocação de uma cidade:
o que te esclarece é o movimento do braço,
o gesto que nada diz arrasta somente
a memória e o seu peso, e reúne depois
novas ciladas, e faz ecoar a morte da cidade,
a linha que percorre o exterior perímetro
e cujo tema é a destruição do sentido.

Uma descrição do que não teve lugar ocorre aí,
uma descrição dobrada pelo ilegível
que a devora.

Tudo é baldio. As vozes antigas – sim, os antepassados –
já não são esperadas, permanecem tapadas pela aflição escura.

Move o braço,
o voo começará onde não houver sentido.



Luís Quintais
in, Riscava a palavra dor no quadro negro





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