sábado, 31 de março de 2018

quinta-feira, 29 de março de 2018

Teoria das Cordas





Não era isso que eu queria dizer,
queria dizer que na alma
(tu é que falaste na alma),
no fundo da alma, e no fundo
da ideia de alma, há talvez
alguma vibrante música física
que só a Matemática ouve,
a mesma música simétrica que dançam
o quarto, o silêncio,
a memória, a minha voz acordada,
a tua mão que deixou tombar o livro
sobre a cama, o teu sonho, a coisa sonhada;
e que o sentido que tudo isto possa ter
é ser assim e não diferentemente,
um vazio no vazio, vagamente ciente
de si, não haver resposta
nem segredo.



Manuel António Pina
in, Atropelamento e Fuga





A Lei do Karma nada tem de castigo





Ao contrário do que muitas pessoas pensam, a Lei do karma nada tem de castigo.
Antes pelo contrário é uma Lei que fala de amor, justiça, aprendizagem, crescimento, responsabilidade e ainda, menos conhecida mas imensamente importante, de auto-preservação.

A Lei do Karma é uma força neutra que apenas devolve consequências. Ela não premeia nem desculpa. Ela devolve o que sai de nós.
Se o que sai de nós é medo, insegurança e revolta, não é a máscara simpática que colocamos que vai enganar a Lei do Karma pois a nós voltarão as consequências de agirmos com medo, insegurança e revolta.

Também não interessa se o respeito ou acto de amor incondicional foram feitos por desconhecidos ou por nós próprios. A Lei do Karma devolve o respeito e o amor incondicional.

A mensagem é então trabalharmos e cooperarmos positivamente com a Lei do Karma, responsabilizando-nos por vibrarmos nas mais elevadas frequências possíveis pois é delas que virão os retornos.

Cada um de nós tem um "Saturno" pessoal, ou seja, um Mestre interno que vai regendo as nossas escolhas. Seja a registar o que plantamos hoje seja a trazer-nos de volta as consequências do passado. Não nos cabe por isso julgar se as escolhas ou colheitas, nossas ou dos outros são positivas ou negativas. Se são mais ou menos justas pois aí estaremos a colocar todas as leis cósmicas e o funcionamento Karmico em causa.

O seu principio de “olho por olho” é brutal e de facto desconfortável.
Por exemplo, não é fechado numa cela que alguém irá sentir na pele a dor e a frustração financeira que causou quando roubou um carro a alguém. Também não é com uma doença que alguém irá aprender sobre autoritarismo ou abuso de autoridade sobre os outros.
Ou seja, nem sempre a justiça dos homens está alinhada com as intenções da justiça karmica.

Mais cedo ou mais tarde, no tempo certo, com a pessoa certa e da maneira certa, a vida irá recriar as circunstâncias karmicas que permitam que o retorno seja igual ao plantio. Só sentindo o impacto das nossas próprias escolhas passadas é que aprendemos sobre as nossas ações.

Pelo lado positivo, ela deixa na nossa mão decidirmos o que queremos experienciar no futuro, permitindo que o nosso livre arbítrio lance hoje para a vida a energia, as frequências e as ações que iremos ter todo o prazer e alegria de colher um dia.

Está na nossa mão de hoje decidir as experiências futuras.



Vera Luz




quarta-feira, 28 de março de 2018

Blind Melon - No Rain

Infectas as feridas são vivas





Faz muitos anos que me oculto,
quedo, estendido ao longo desta muralha.
Infectas as feridas são vivas
e secam em falso oblongas crostas
Estendido em silêncio e torpor:
Vinte e tantos anos de idade
e outros tantos de medo

O medo da palavra e do gesto,
medo na aba do chapéu e na gabardina,
medo de ti que me olhas na avenida,
medo escorrido ao longo da fachada,
mergulhado nas poças brilhantes do asfalto.

Não tenho culpa de ter medo,
nasci no tempo impreciso do medo.
Não temo o rosto diverso da morte,
não temo a ameaça da nuvem atómica,
não temo o susceptível de ser temido
há dois mil e tantos anos.
Temo a disfarçada ameaça indisfarçada,
temo o honor da angústia a todo a hora,
temo o temor do tempo do medo.

O medo infla, cresce e aboluma-se.
Impregna-se na carne, no cerne das unhas,
veste a tepidez da epiderme e o frio dos ossos.
Total, domina, obstrui, materializa-se em suor.
Pela calada sombria vireis na hora próxima.
Prevenido de medo, farto de medo,
tremo, e este modo é uma ameaça

que se oblitera e volta contra vós.


RUI KNOPFLI
in, O País dos Outros






O que sabes sobre a tua Mãe, Avó Materna e Bisavó?





Cada filha leva consigo a sua mãe.
É um vínculo eterno do qual nunca poderemos nos desligar. Porque, se algo deve ficar claro, é que sempre teremos algo de nossa mãe. Para termos saúde e sermos felizes, cada uma de nós deve conhecer de que maneira nossa mãe – seja a mãe biológica, de criação, uma tia, uma avó ou mesmo outra pessoa que a tenha representado em sua vida – influenciou nossa história e como continua a influenciar. Mesmo que tenhamos sido criados por “outras mães”, a mãe biológica é a que, antes de nascermos, ofereceu nossa primeira experiência de carinho e de sustento.

Na Visão da Constelação Familiar, não existe outra mãe capaz de substitui-la, porque os filhos receberam a vida dessa mãe. Por esse motivo, é a melhor e a única possível sob este ponto de vista. A vida vem de longe, o quão longe não sabemos. Ela se perde em algo não reconhecido e desconhecido por nós. Mesmo assim, a vida que flui por essas gerações é sempre a mesma. Não faz diferença como foram os pais, todos são iguais naquilo que receberam e transmitiram. Afinal, todos nascemos de uma mãe.





Quando a MÃE LIBERTA o FILHO, promove empoderamento da força do clã. Quando o FILHO HONRA SEUS PAIS, prospera e a vida flui.
Então, o que é essa conexão com a mãe? 
Como podemos saber se alguém está ou não bem conectado a ela? Segundo Bert Hellinger – criador deste belo, profundo e visceral trabalho chamado de Constelação Familiar – pode-se perceber que esta pessoa está “cheia” quando bem sintonizada com a mãe. Ela tem pouco a exigir e muito a dar. Alegra-se com o que recebe e serve a outros com alegria. É uma fonte de inspiração para os outros. Isso porque a mãe é, antes de mais nada, o modelo básico da revisão do servir a outros. É a mãe quem serve na família, e o faz com desvelo e ternura.

Se aprendemos essa postura básica, então estaremos aptos a servir também outros com alegria, pois todo trabalho representa o serviço a outros. E o sucesso deriva da pressão natural produzida nos demais em retribuir o que damos a eles na forma de nosso servir. Isso representa aquele que tem sucesso, o líder nato: outros fazem de boa vontade aquilo que lhes é pedido, e vice-versa.
Assim, um passo fundamental na escalada ao sucesso parte da revisão da relação com a nossa mãe – O sucesso em nossa vida tem a cara da mãe! O progresso tem a cara do pai. 

E o que vem a ser tal revisão da relação com a nossa mãe? 
Consiste em tomar a mãe em nosso coração tal como ela é: com amor, sem queixas, exigências, temores, recriminações, acusações ou reclamações. Consiste em concordar que ela é também uma mulher comum, imperfeita, e portanto sujeita a erros, e mesmo assim, nossa mãe.
Para isso, Bert Hellinger diz: 
“Precisamos primeiro desistir de ser uma pessoa especial e concordarmos em ser uma pessoa comum, pois como pode alguém especial ser filho de pessoas comuns? Ser efetivamente capaz de assumir uma postura de total Gratidão a ela é a base do sucesso. Esse é o primeiro curso da ação, a base de tudo o mais”.

Essa premissa não significa que tenhamos que perder nossa individualidade e liberdade, mas compreendermos que o amor possui uma ordem, citado por Hellinger numa perfeita analogia: As Ordens do Amor. Este fluxo de amor, assim, segue uma ordem dentro da hierarquia familiar, como uma cachoeira e seus vários declives, representada pelas posições que tomamos em nossa família, isto é: os filhos são pequenos perante os pais, que são grandes; os pais são pequenos perante seus pais, que são grandes, e assim por diante. Nessa reflexão, quando saímos do nosso lugar para ocupar o lugar de outro na família, por muitas razões, independente aqui de qualquer julgamento, perdemos força provinda desta cachoeira e deixamos de desempenhar o papel que deveríamos em nossa vida e dentro da família.

Este apanhado de textos e reflexões, enfim, tem o objetivo de trazer o nosso olhar para dentro de nós e também para as nossas raízes, a fim de nos conhecermos ainda mais na medida que seguimos a nossa jornada, uma vez que encontramos de facto a paz interior quando iluminamos as nossas raízes e compreendemos o que é nosso e o que é do outro. 
Só ocupando o nosso lugar dentro da hierarquia familiar ganhamos força e podemos seguir adiante, permitindo a formação do nosso Self e de uma nova família.



“Nossas células se dividiram e se desenvolveram ao ritmo das batidas do coração; nossa pele, nosso cabelo, coração, pulmões e ossos foram alimentados pelo sangue – sangue que estava cheio de substâncias neuroquímicas formadas como resposta a seus pensamentos, crenças e emoções. Quando sentia medo, ansiedade, nervosismo, ou se sentia muito aborrecida pela gravidez, nosso corpo se inteirou disso; quando se sentia segura, feliz e satisfeita, também notamos.”  
– Christiane Northrup






A RELAÇÃO COM A MÃE – MÃES E FILHOS

Entrevista a Bert Hellinger realizada por Esther Lak, em Novembro de 2005

Como podemos ser felizes ou encaminharmo-nos para a felicidade?

A felicidade começa muito precocemente, começa com a mãe e é mantida na relação com ela. O caminho da felicidade interrompe-se quando perdemos o contato com a mãe, também com o pai, é claro, mas este está em segundo lugar. Pode observar-se, às vezes faço-o quando estou a ver televisão: olhamos para os atores ou para os que estão a falar na televisão e então a minha mulher pergunta “que relação tem este com a mãe dele?”. Pode ver-se de imediato: os que estão em conexão com a mãe brilham, têm uma expressão de alegria e são amados pelos outros, isto nota-se facilmente. Quando alguém vem dizer que não se sente feliz, eu pergunto-lhe sobre a sua mãe, pelo relacionamento que tem com ela. Tenho no meu coração a mãe desta pessoa, imediatamente presente com respeito, e como eu a respeito, posso levá-lo até ela e em breve começa também a irradiar, a brilhar. Este é um caminho para a felicidade.

A relação com a mãe é reparável? Para muitos ela é uma relação de conflito.

Os conflitos são necessários. Muitas relações com a mãe estão bloqueadas porque temos ~expetativas em relação a essa pessoa que vão para além do que se pode esperar de um ser humano. Se os pais fossem perfeitos, se a mãe fosse a ideal, não seríamos capazes de viver, não teríamos a força para viver. Somos capazes de viver porque os nossos pais têm falhas. Isso é o que nos introduz na verdadeira vida, ou seja, amamos os nossos pais assim como eles são, exatamente como eles são, e assim tornamo-nos felizes.

Estava a pensar se tudo o que recebemos dos nossos pais, as coisas que nos ferem, por exemplo, se tudo é perdoável?

Um filho que perdoa está ao mesmo tempo a acusar os pais. Está a colocar-se acima deles e assim perde-os, bem como ao seu destino e à sua felicidade. Se posso admitir tudo o que acontece, dizer-lhe sim, o sucedido converte-se numa força; quando o rejeito ou o perdoo, fico frágil, coloco-me acima e ao mesmo tempo permaneço pequeno.

Então, a aceitação não significa colocar-se por debaixo numa situação?

Não é o mesmo que aceitar, estou a dizer-lhe sim, quando aceito sou passivo, quando digo sim sou ativo e ao dizer que sim algo se transforma, enquanto que ao aceitar nada se transforma. Esta é uma diferença muito importante.

Se existisse em mim um brilho, pelo tipo de relacionamento que tenho com a minha mãe, o que aconteceria com a minha mãe em relação a mim?

Ela, como é evidente, está também feliz; sobretudo porque se abre o coração da mãe e o seu amor pode fluir para ti, as duas vão estar felizes. Um homem disse-me certa vez que a mãe dele o odiou quando ele era pequeno. Ela morava muito perto do local onde estávamos a fazer o seminário e então eu disse-lhe “vai visitá-la”. No dia seguinte ele voltou, estava radiante e eu disse-lhe “mas o que é que fizeste?”, “fui visitá-la e disse à minha mãe: eu estou feliz por me teres dado à luz…”, e a mãe brilhava, irradiava e ele também. Tão fácil é a felicidade.

Como nos preparamos então para ser boas mães ou sermos as mães que queremos brilhar nos olhos dos nossos filhos?

Muito simples: amar a nossa própria mãe. Agora você também brilha…

Para fechar esta nota, queria perguntar sobre como fica o lugar do pai, uma vez que falávamos somente do lugar feminino. O pai tem uma demanda, tem protagonismo, ou pelo fato de a mãe ocupar este lugar o seu papel é complementar?

Sim, o pai está em segundo lugar. Mas, hoje em dia, os pais estão muitas vezes excluídos, e o pai que está excluído põe a mãe triste, fá-la infeliz. Para a mãe estar feliz, ela tem que respeitar e amar o pai e isso nem sempre é simples, porque os homens são diferentes, e temos de os amar assim como são – diferentes.

E as crianças precisam do pai, para a felicidade é necessário que elas possam ter o pai. Então, as crianças felizes são aquelas que são olhadas pela mãe e a mãe, através desta criança, ama também o pai; e o pai olha para os filhos e, através deles, ama também a mãe. Essas crianças são crianças felizes.





FALTA DE MÃE – FILHOS ÓRFÃOS OU EXCLUÍDOS
Trazendo um exemplo do trabalho de Constelação Familiar, um marido que trai a esposa – com várias outras mulheres – pode ter a origem deste comportamento na falta ou na ausência da mãe. Realizando a constelação neste exemplo específico – levando em consideração de que cada caso é único – apareceram: três gerações anteriores de homens órfãos de mãe.

Neste caso, como funciona a dinâmica no inconsciente do homem: 
“Vou encontrar a mãe que partiu precocemente”.
Assim, quem procura amantes, procura a mãe.
E o que completa a reflexão neste exemplo:
“A mãe continua presente em cada filho.”


LEALDADE AOS PAIS
Libertar-se da lealdade aos pais não significa deixar de amá-los.
Libertar-se desta lealdade é tornar-se adulto.

“Os filhos, se desejam viver, precisam deixar que seus pais se vão; isto é, os filhos precisam livrar-se do sentimento de culpa quando abandonam a lealdade a seus pais no que tange à ligação infantil com eles, desse modo deixando de corresponder, talvez, a seus desejos e ideias.
Isso é particularmente difícil para os filhos quando os pais projetam carências sobre os filhos, porque os seus próprios pais – avós desses filhos – não estavam ou não estão disponíveis da maneira como desejavam.” 

Stephan Hausner

“Quando os pais resolvem a vida de filhos (adultos) não os estão ajudando, na realidade os estão tornando incapazes.” 
Bert Hellinger







Entrevista a Bert Hellinger:


A Avó Materna é muito importante para você. Por quê? 

Uma vez que é essencial na transferência de informação e programas de genética.

Acontece que, quando ela estava grávida de sua mãe, o feto já tem os ovócitos formados. E esses ovócitos vão deixar os 400 óvulos que terão sua mãe durante sua vida reprodutiva. Um desses óvulos tomará o seu nome – lindo! Portanto, este óvulo carrega informação da sua avó.

Quais as informações que você quer dizer? 

Por tudo o que a avó viveu, sentiu e como ela viveu. Se fosse o momento adequado para ter filhos, se desejasse a gravidez, se ela estava protegida por seu marido, quais foram seus amores, conflitos de identidade, sonhos e projetos de vida. Quais eram também as necessidades biológicas de sua avó durante a gravidez de sua mãe.

Tudo isto e muito mais é a informação que está impressa em todas as células do feto. Então, você também herda da avó informações de quando ela estava grávida de sua mãe.

Você já ouviu falar, por exemplo, que a genética, às vezes, pula uma geração?

Pois é exatamente isso. Do óvulo que foi gerada, você carrega informação da avó materna.

Mas, porque da avó e não do avô? 

Porque a avó tem o óvulo, enquanto que o avô tem o espermatozóide. Mas, é o óvulo que contém parte da informação genética mitocondrial, que está na membrana da célula.

No caso do avô, as informações mitocondriais estão na cauda do espermatozóide. No momento da fecundação a cauda é deixado de fora. Na mitocôndria é onde está registada a informação a níveis de programas que se herdam, por essa razão, as informações da avó ficam mais presentes e do avô não.

Para muitos, essa informação é uma grande descoberta. Ao tornar-se consciente da vida da avó percebe-se que muitos dos seus medos eram medos dela. Ao compreender sua vida e honrá-la – da mesma forma que honra a mãe – é possível sentir-se “magicamente” livre de muitas coisas que estariam impedindo você de avançar, como uma energia estagnada que permanecia no caminho e que agora flui.





O LEGADO QUE HERDAMOS DE NOSSA MÃE
Qualquer mulher, seja ou não seja mãe, leva consigo as consequências da relação que teve com sua progenitora. Se ela transmitiu mensagens positivas sobre seu corpo feminino e sobre a maneira como devemos trabalhá-lo e cuidá-lo, seus ensinamentos sempre irão fazer parte de um guia para a saúde física e emocional.

No entanto, a influência de uma mãe também pode ser problemática quando o papel exercido for tóxico, devido a uma atitude negligenciada, ciumenta, chantagista ou controladora. Quando conseguimos compreender os efeitos que a criação teve sobre nós, começamos a compreender a nós mesmas, a nos curarmos e a sermos capazes de assimilar o que pensamos de nosso corpo ou a explorar o que consideramos possível conseguir na vida.

A ATENÇÃO MATERNA
Quase todos nós temos a necessidade de sermos vistos por nossas mães, buscamos sua aprovação. Na origem, esta dependência obedece às questões biológicas, pois precisamos delas para existir durante muitos anos; no entanto, a necessidade de afeto e de aprovação é forjada desde o primeiro minuto, desde que olhamos nossa mãe para sabermos se estamos fazendo algo certo ou se somos merecedores de uma carícia.

Assim como indica Northrup – autora do livro Mães e Filhas – o vínculo mãe-filha está estrategicamente desenhado para ser uma das relações mais positivas, compreensivas e íntimas que teremos na vida. No entanto, isso nem sempre acontece assim. Com o passar dos anos, esta necessidade de aprovação pode se tornar patológica, gerando obrigações emocionais que propiciam que nossa mãe tenha o poder sobre nosso bem-estar durante quase toda a nossa vida: “O fato de que nossa mãe nos reconheça e nos aceite é uma sede que temos que saciar, mesmo que haja certo sofrimento do ego para conseguir isso.  Isso supõe uma perda de independência e de liberdade que nos apaga e nos transforma.”


CRESCENDO COMO MULHER E FILHA
“Não podemos escapar desse vínculo, pois seja ou não saudável, sempre estará ali para observar nosso futuro.”
 A decisão de crescer implica limpar as feridas emocionais ou qualquer questão que não tenha sido resolvida na primeira metade de nossa vida. Esta transição não é uma tarefa fácil – podendo levar anos para ser completa enquanto ciclo de desapego, transformação e cura – porque primeiro temos que detectar quais são as partes da relação materna que requerem solução e cicatrização.
Disso depende nosso senso de valor presente e futuro. Isso acontece porque sempre há uma parte de nós que pensa que devemos nos dar em excesso para a nossa família ou para o nosso parceiro para sermos merecedoras de amor.

A maternidade e, inclusive, o amor de mulher continuam sendo sinônimos culturais na mente coletiva. Isso supõe que nossas necessidades sejam sempre renegadas ao cumprimento ou não das dos demais. Como consequência, não nos dedicamos a cultivar nossa posição, sentimentos e mente de mulher, senão a moldá-las ao gosto da sociedade na qual vivemos.

As expectativas do mundo sobre mulheres nessa condição de cobrança e pressão podem ser muito difíceis, talvez semelhante a um verdadeiro veneno que, ao longo da vida, obriga a esquecer nossa individualidade. “Estas são as razões que fazem tão necessária a ruptura da cadeia de dor e cicatrização íntegra de nossos vínculos, assim como as lembranças que temos deles. Devemos estar cientes de que estes vínculos se tornaram espirituais há muito tempo e, portanto, cabe a nós fazermos as pazes com eles.”






A MÃE DA MÃE 
Por Marcela Feriani

“Enquanto os olhos do mundo estão no bebê que acaba de nascer, a mãe da mãe enxerga a filha, recém-parida. O papel de avó pode esperar, pois é a sua menina que chora, com os seios a vazar.

A mãe da mãe esfrega roupinhas manchadas de cocô, varre o chão, garante o almoço. Compra pijamas de botão, lava lençóis sujos de leite e sangue. Ela sabe como é duro se tornar mãe.

No silêncio da madrugada, pensa na filha, acordada. Quantas vezes será que foi? Aguentará a manhã com um sorriso? Leva canjica quentinha e seu bolo favorito.

Atarefada, a mãe da mãe sofre em silêncio. Em cada escolha da filha, relembra suas próprias. Diante de nova mãe, novo bebê, muito leite e tanto colo, questiona tudo o que fez, tempos atrás. Tempo que não volta mais.

Se hoje é o que se tem, então hoje é o que é. Olha nos olhos, traz pão e café. Esse é o colo, esse é o leite. Aqui e agora, presente.

A mãe da mãe ajuda a filha a voar. Cuida de tudo o que está às mãos para que ela se reconstrua, descubra sua nova identidade. Ela agora é mãe, mas será sempre filha.

Toda mãe recém-nascida precisa dos cuidados de outra mulher que entenda o quanto esse momento é frágil. A mãe da mãe pode ser uma irmã, sogra, amiga, doula, vizinha, tia, avó, cunhada, conhecida. O fato é que o puerpério necessita de união feminina, dessa compreensão que só outra mãe consegue ter. O pai é um cuidador fundamental, comanda a casa e se desdobra entre mãe e filho, mas é preciso lembrar que ele também acaba de se tornar pai, ainda que pela segunda ou terceira vez.”





Textos e Entrevistas de Bert Hellinger – é considerado um dos maiores filósofos do nosso tempo. Suas descobertas no campo da terapia familiar transformou a vida de milhares de pessoas e continua hoje, mais de 40 anos após sua criação, a encontrar aplicação em diversas outras áreas que envolvem o relacionamento sistémico.

Livros de Bert Hellinger:
1. Constelações Familiares;
2. As Ordens do Amor;
3. Liberados Somos Concluídos;
4. Ordens da Ajuda;
5. No Centro Sentimos Leveza;
6. A Fonte não precisa perguntar pelo caminho

Livros Consultados e Recomendados: 
1. Mães e Filhas: o vínculo que cura, o vínculo que fere – Dra. Cristiane Northrup;
2. A Sabedoria da Menopausa – Dra. Cristiane Northrup
3. Mulheres Visíveis, Mães Invisíveis – Laura Gutman


in, Wohali 



“A maior herança de uma mãe para uma filha 
é ter se curado como mulher” 
– Christiane Northrup











terça-feira, 27 de março de 2018

Como a vida sem caderneta


Ian Webb





Como a vida sem caderneta 
como a folha lisa da janela 
como a cadela violeta
- ou a violenta cadela? 

Como o estar egípcio emudado 
no salão do navio de espelhos 
como o nunca ter embarcado 
ou só ter embarcado com velhos 

Como ter-te procurado tanto 
que haja qualquer coisa quebrada 
como percorrer uma estrada 
com memórias a cada canto 

Como os lábios prendem o copo 
como o copo prende a tua mão 
como se o nosso louco amor louco 
estivesse cheio de razão 

E como se a vida fosse o foco 
de um baço, lento projector 
e nós dois ainda fôssemos pouco 
para uma tempestade de cor 

Um ao outro nos fôssemos pouco 
meu amor meu amor meu amor 



Mário Cesariny





Mojud e a vida inexplicável





Mojud era um funcionário de uma repartição pública em uma pequena cidade do interior. Não tinha qualquer perspectiva de um emprego melhor, e seu país atravessava uma grande crise económica, e Mojud já estava resignado em passar o resto de sua vida trabalhando oito horas por dia, e tentando divertir-se durante as noites e os finais de semana, vendo televisão.

Certa tarde, Mojud viu dois galos brigando.
Com pena dos animais, foi até o meio da praça para separa-los, sem dar-se conta que estava interrompendo uma luta de galos-de-briga.
Irritados, os espectadores espancaram Mojud.
Um deles ameaçou-o de morte, porque o seu galo estava quase ganhando, e ia receber uma fortuna em apostas.

Com medo, Mojud resolveu deixar a cidade. 
As pessoas estranharam quando ele não apareceu no emprego – mas como havia vários candidatos para o posto, esqueceram rápido o antigo funcionário.
Depois de três dias viajando, Mojud encontrou um pescador.
– Onde você está indo? – perguntou o pescador.
– Não sei.
Compadecido da situação do homem, o pescador levou-o para sua casa.

Depois de uma noite de conversas, descobriu que Mojud sabia ler, e propôs um trato: ensinaria o recém-chegado a pescar, em troca de aulas de alfabetização. Mojud aprendeu a pescar. Com o dinheiro dos peixes, comprou livros para poder ensinar ao pescador. Lendo, aprendeu coisas que não conhecia. Um dos livros, por exemplo, ensinava marcenaria, e Mojud resolveu montar uma pequena oficina. Ele e o pescador compraram ferramentas, e passaram a fazer mesas, cadeiras, estantes, equipamentos de pesca.

Muitos anos se passaram.
Os dois continuavam a pescar, e contemplavam a natureza durante o tempo que passavam no rio. Os dois também continuavam a estudar, e os muitos livros desvendavam a alma humana. Os dois continuavam a trabalhar na marcenaria, e o trabalho físico os deixava saudáveis e fortes. 

Mojud adorava conversar com os fregueses.
Como agora era um homem culto, sábio, e saudável, as pessoas lhe pediam conselhos.
A cidade inteira começou a progredir, porque todos viam em Mojud alguém capaz de dar boas soluções aos problemas da região. Os jovens da cidade formaram um grupo de estudos com Mojud e o pescador, e logo espalharam aos quatro ventos que eram discípulos de sábios.

Um dos jovens perguntou, certa tarde:
– Mojud resolveu abandonar tudo para dedicar-se a busca da sabedoria?
– Não – respondeu Mojud. – Eu tinha medo de ser assassinado na cidade onde vivia.

Mas os discípulos aprendiam coisas importantes, e logo transmitiam à outras pessoas. 
Um famoso biógrafo foi chamado para relatar a vida dos Dois Sábios, como eram agora conhecidos. Mojud e o pescador contaram o que tinha acontecido.
– Mas nada disso reflete a sabedoria de vocês – disse o biógrafo.
– Tem razão – respondeu Mojud. – Mas é a verdade. – Nada de especial aconteceu em nossas vidas.

O biógrafo escreveu durante cinco meses.
Quando o livro foi publicado, transformou-se num grande êxito de vendas. Era uma maravilhosa e excitante história de dois homens que buscaram o conhecimento, largaram tudo que faziam, lutaram contra as adversidades, encontraram mestres secretos.
– Não é nada disso – disse Mojud, ao ler sua biografia.
– Santos precisam ter vidas excitantes – respondeu o biógrafo. – Uma história tem que ensinar algo, e a realidade nunca ensina nada.

Mojud desistiu de argumentar. 
Sabia que a realidade era o que ensinava tudo que um homem precisa saber, mas não
adiantava tentar explicar isso.

“Que os tolos continuem vivendo com suas fantasias”, disse para o pescador.

E ambos continuaram a ler, escrever, pescar, trabalhar na marcenaria, ensinar os discípulos, fazer o bem. Só prometeram nunca mais tornar a ler livros sobre vida de santos, já que as pessoas que escrevem este tipo de livro não compreendem uma verdade bem simples: tudo que um homem comum faz em sua vida o aproxima de Deus.


Paulo Coelho
in, Diário da Manhã




segunda-feira, 26 de março de 2018

A PERFEIÇÃO DAS COISAS





O vento - finalmente no fogo do dia - o vento do mundo
neste lugar aberto 
escreve a inclinação dos jovens álamos na última colina
contra o céu para sempre novo e antigo. 
As mãos do vento escrevem em verso ramos e folhas, pontos e traços,
a sombra da luz; encurvam para a esquerda e em cima 
as hastes longas e breves: as vogais aéreas
da paisagem terrestre que teríamos esquecido.
É subitamente que o vês claramente visto
repetindo a imagem do tempo:
é uma caligrafia de acaso.
Mas é uma caligrafia minuciosa nítida;
inquieta e exacta;
ofuscante como a incriada perfeição das coisas.

Numa outra folha ou margem ou luz ou lugar do mundo
és tu agora. Levantas o vestido leve; os teus dedos
enrodilham-no, subindo-o numa onda irrepetível e
contudo, repetidas vezes sem conta.
As tuas mãos enquanto quase quase danças - embora
apenas andes sobre o imortal chão da casa -
sobem o pano
de algodão, apanham a bainha, colhem as asas do escasso 
mar
que te cobria e
levam-nas até à linha irrevogável das ancas
como se fossem prender o vestido à levíssima ondulação
do mundo andante.

É como se uma onda no corpo abrisse lenta e fulminante
a incalculável praia ao esplendor em que cada coisa se diz
como se cantasse o nome do sem nome.

A curvatura daquelas hastes e a onda vertical que o teu gesto inventa
escrevem então a infindável passagem entre os separados mundos
e a isso só podemos chamar a alegria.



Manuel Gusmão
in,"Teatros do Tempo"






Se numa Noite de Inverno um Viajante





Acabei agora de reler este "puzzle" em forma de livro, do inigualável Italo Calvino.
Cada vez que o releio, descubro sempre coisas diferentes.
Um dos meus escritores favoritos, desde sempre.

10 inícios de romances distintos - uma espécie de contos - que nos deixam com água na boca para conhecer o desfecho...que nunca acontece. São dez começos de romances interrompidos e nunca retomados.
Um trabalho muito técnico, complexo e, acima de tudo, uma ode ao prazer da leitura.
Um livro sobre livros!
A forma como se lê, o tipo de livros que se lê, os tipos de escritores e os tipos de leitores que existem...

Calvino começa por se debruçar sobre a "crise da representação", ou seja, no mundo capitalista contemporâneo, dividido, múltiplo, alienado, não teriam mais lugar os romances tradicionais, com princípio, meio e fim, que constroem personagens e organizam o mundo, dando um sentido às coisas. O leitor de hoje estaria condenado ou à leitura espinhosa de obras que se debruçam sobre si mesmas e procuram desesperadamente uma saída para a literatura, ou à superficialidade descartável das obras de simples entretenimento com tudo mastigado. Calvino "socorre" esse leitor que é inquieto e exigente mas que gostaria que os autores escrevessem livros "como uma macieira faz maçãs". Para isso, faz do próprio leitor o seu personagem principal, cuja grande missão é ler romances. E tal como nós, leitores, ele entra numa livraria e compra este livro: Se um viajante numa noite de inverno. É aí que começa a história.

Como leitora, revi-me no modo como o autor descreve os tiques e as pequenas grandes manias dos leitores incorrigíveis, e simplesmente adorei o início do livro onde nos é dada uma série de conselhos quanto ao ambiente, à posição de leitura e até à luminosidade adequada para ler.

“Estás para começar a ler o novo romance Se numa noite de Inverno um viajante de Italo Calvino. Descontrai-te. Recolhe-te. Afasta de todos os outros pensamentos. Deixa esfumar-se no indistinto o mundo que te rodeia. (…) Arranja a posição mais cómoda: sentado, estendido, enroscado, deitado. Deitado de costas, de lado, de barriga. Na poltrona, no sofá, na cadeira de baloiço, na cadeira de praia, no pufe. Numa cama de rede, se tiveres alguma cama de rede. Em cima da cama, naturalmente, ou dentro da cama. Até podes pôr-te de cabeça para baixo, em posição de yoga. Com o livro virado ao contrário, bem entendido.” (…) Descalça primeiro os sapatos. Mas só se quiseres ficar de pés soerguidos, porque senão torna a calçá-los. E agora não fiques por aí e sapatos numa mão e livro na outra.
Regula a luz de modo a não te cansar a vista. Fá-lo já, porque assim que estiveres mergulhado na leitura, nem penses em mexer-te. Arranja-te de maneira que a página não fique na sombra, um emaranhado de  letras negras sobre fundo cinzento, uniformes como uma ninhada de ratos; mas tem cuidado para que não lhe bata de chapa uma luz demasiado forte e que não se reflicta no branco cru do papel roendo as sombras dos caracteres como num meio-dia do Sul. Tenta prever agora tudo o que puder evitar-te o interromper da leitura. Os cigarros ao alcance da mão, se fumares, e o cinzeiro. Que mais é que falta? Tens de ir fazer chichi? Bem, tu é que sabes.”

Outra descrição que me captou a atenção, é a do tipo de livros que vemos quando vamos a uma livraria para comprar livros:

“Foi logo na montra da livraria que descobriste a capa com o título que procuravas. Atrás desta pista visual, lá foste abrindo caminho pela loja dentro através da barreira cerrada dos Livros Que Não Leste, que de cenho franzido te olhavam das mesas e das estantes procurando intimidar-te. Mas tu sabes que não te deves deixar assustar, que no meio deles se estendem por hectares e hectares os Livros Que Podes Passar Sem Ler, os Livros Feitos Para Outros Usos Além Da Leitura, os Livros Já Lidos Sem Ser Preciso Sequer Abri-los Por Pertencerem À Categoria Do Já Lido Ainda Antes De Ser Escrito. E assim transpões a primeira muralha dos baluartes e cai-te em cima a infantaria dos Livros Que Se Tivesses Mais Vidas Para  Viver Certamente Lerias Também De Bom Grado Mas Infelizmente Os Dias Que Tens Para Viver São Os Que Tens Contados. Com um movimento rápido passas por cima deles e vais parar ao meio das falanges dos Livros Que Tens Intenção De Ler Mas Antes Deverias Ler Outros, dos Livros Demasiados Caros Que Podes Esperar Comprar Quando Forem Vendidos Em Saldo, Dos Livros Idem Idem Aspas Aspas Quando Forem Reeditados Em Formato De Bolso, dos Livros Que Podes Pedir A Alguém Que Te Empreste e dos Livros Que Todos Leram E Portanto É Quase Como Se Também Os Tivesses Lido. Escapando a estes assaltos, avanças para diante das torres do reduto, onde te opõem resistência
os Livros Que Há Muito Programaste Ler,
os Livros Que Há Anos Procuravas Sem Os Encontrares,
os Livros Que Tratam De Alguma Coisa De Que Ocupas Neste Momento,
os Livros Que Queres Ter Para Estarem À Mão Em Qualquer Circunstância,
os Livros Que Poderias Pôr De Lado Para Leres Se Calhar Este Verão,
os Livros Que Te Faltam Para Pôres Ao Lado De Outros Livros Na Tua Estante,
os Livros Que Te Inspiram Uma Curiosidade Repentina, Frenética E Não Claramente Justificada.
E lá conseguiste reduzir o número ilimitado das forças em campo a um conjunto sem dúvida ainda muito grande mas já calculável num número finito, mesmo que este relativo alívio seja atacado pelas emboscadas dos Livros Lidos Há Tanto Tempo Que Já Seria Altura De Voltar A Lê-los e dos Livros Que Dizes Sempre Que Leste E Seria Altura De Te Decidires A Lê-los Mesmo.”

“- Ler-diz ele, – é sempre isto: há uma coisa que ali está, uma coisa feita de escrita, um objecto sólido, material, que não se pode alterar, e através dessa coisa comparamo-nos com outra coisa qualquer que faz parte do mundo imaterial, invisível, porque é só pensável, imaginável, ou porque existiu e já não existe, passando, perdida, inalcançável, para o país dos mortos…
– …Ou que não está presente porque ainda não existe, algo de desejado, de temido, possível ou impossível – diz Ludmilla, – ler é ir ao encontro de qualquer coisa que está para ser e que ainda ninguém sabe o que será…”


“ A leitura que os amantes fazem dos seus corpos (desse concentrado de corpo e espírito de que os amantes se servem para irem juntos para a cama) difere da leitura das páginas escritas por não ser linear. Começa num ponto qualquer, salta, repete-se, volta atrás, insiste, ramifica-se em mensagens simultâneas e divergentes, torna a convergir, enfrenta momento de tédio, vira a página, recupera o fio, perde-se. (…)O aspecto em que a cópula e a leitura mais se parecem é que dentro delas se abrem tempos e espaços diferentes do tempo e do espaço medíveis.”


É um livro que se ama ou se detesta!
Um romance extremamente cerebral.

Calvino desenvolve, argumenta e defende “teses” em cada um dos capítulos deste romance. 
Cada uma dessas “teses” trata de um aspecto da leitura: a leitura banal, a leitura especializada, a crítica, a tradução, a edição, a venda, etc.
Talvez pudéssemos ler este livro como um romance acerca do sistema literário.
Os protagonistas são os livros, os leitores, os escritores e a própria arte de escrever.
É um percurso complexo e muito bem estruturado, soberbamente escrito sobre as vicissitudes de um leitor e de uma leitora em busca da continuação de um novo romance que tinham começado a ler e cuja leitura fora súbita e irritantemente interrompida num ponto crucial da história.
Assim começa o livro, com o primeiro livro da história com 10 escritores imaginários diferentes.
Uma homenagem ao prazer da leitura, aos leitores, aos escritores e aos livros.

É um "puzzle" que obriga o Leitor, a Leitora e o leitor(nós) a saltar do romance policial, para o livro de mistérios, da literatura erótica para a de viagens, do tratado de filosofia para a teoria literária. Um mosaico que mistura estilos e histórias, que questiona a escrita e a leitura.
Existe alguém, que já fez parte da vida da Leitora Ludmilla, Hermes Marana, tradutor, que não cumpria as suas funções, antes inventava ou copiava obras baratas. A procura do Leitor leva-o até à editora, e, segundo o editor, Marana é o responsável por alguma daquela confusão de livros e de inícios de romances que não terminam. É que o tradutor defende uma teoria: não interessam os nomes dos autores, "sabe-se lá que livros da nossa época se terão salvado e de que autores se recordará ainda o nome"?

Ao longo do livro é notória a crítica à mercantilização da cultura, nomeadamente no domínio da edição de livros e da falsificação. Calvino entra mesmo numa reflexão sobre os apócrifos, encarando a falsificação como manifestação da verdadeira natureza humana e da sua hipocrisia.
Por outro lado, aquilo que é falso não deixa de ser encantador; a falsidade é o contraponto da verdade e assim lhe dá sentido.

Esta impotência que sentimos por não poder terminar a leitura de cada um dos dez livros é acompanhada, frequentemente, pela angústia do próprio escritor, quando não consegue, ele próprio, terminar a obra. Nesse aspecto, este romance sente-se também como um desabafo e, mais uma vez vem ao de cima a cumplicidade entre autor e leitor.
No livro surge um escritor, Silas Flannery, romancista e autor de inúmeros "best-sellers".
Será Flannery o alter-ego de Calvino?
Flannery teve um bloqueio e está retirado das lides literárias (Calvino escreve este livro em 1979, depois de 7 anos sem escrever). Diariamente, espreita uma mulher, que não conhece, que lê e o autor anseia escrever o livro que aquela leitora deseja ler. Melhor, que a leitora está a ler. Por isso não consegue escrever.
Será "Se numa Noite de Inverno um Viajante" esse livro?
Por fim, o Leitor e nós, leitores, consegue ou não construir o puzzle concebido por Calvino?

Para o leitor, o envolvimento na leitura permite-lhe entrar num mundo encantado.
Aqui, no último capítulo do livro, em que estão vários leitores numa biblioteca a partilhar os seus pontos de vista sobre os livros, a leitura altera toda a dimensão da vida do leitor.
Cada um destes leitores tem uma forma diferente de abordar a leitura e é muito interessante como nos identificamos com algumas delas ou conhecemos alguém assim, ou já nos aconteceu fazermos de todas aquelas maneiras, com livros diferentes, como se cada livro condicionasse a leitura e esta não fosse condicionada pelo tipo de leitor. Todas são válidas. 

Enquanto se lê, ultrapassa-se todas as barreiras. E quando a leitura é interrompida, instala-se a angústia e o espírito fervilha em busca de uma continuação.
O estímulo da leitura torna-se indispensável, de uma leitura com substância, mesmo que de cada livro não consigamos ler mais do que algumas páginas. Mas, essas poucas páginas encerram em nós o Universo Inteiro a que não conseguimos dar um fim.
A leitura como uma operação descontínua e fragmentária.
Por isso acho interessante reler várias vezes um livro, porque se fazem novas descobertas entre as dobras das frases...nas entrelinhas.
Neste livro, em cada releitura, é como se estivesse a ler um livro novo pela primeira vez. Vejo coisas novas, sinto o livro de forma diferente, faço novas descobertas em relação ao livro e em relação a mim, fico com impressões diferentes e inesperadas, penetro mais no espírito do texto.

E é aqui que um dos leitores que estão na biblioteca diz uma coisa que me tocou especialmente desta vez:

" Cada novo livro que leio passa a fazer parte desse livro geral e unitário que é a soma das minhas leituras. Isso não acontece com facilidade: para compor esse livro geral, todo o livro particular deve transformar-se, entrar em relação com os livros que li anteriormente, tornar-se o seu corolário, o seu desenvolvimento, a sua confutação, a sua glosa, ou o seu texto de referência. Não fazemos mais do que prosseguir a leitura de um único livro. Todos os livros que lemos levam a um único livro."


Porque o livro só termina com a morte ou com a persistência da vida, ou como diz no livro, " O sentido último para que remetem todas as narrativas tem duas faces: a continuidade da vida e a inevitabilidade da morte." Livros que não terminam são apenas pedaços de vida que não têm princípio nem fim; são mundos sujeitos a múltiplos olhares.

No final do livro, descobrimos que os dez contos cujos títulos ligados formam uma frase poética que, de uma certa maneira, resume toda a viagem no livro, e todos os protagonistas dos contos acabam por ser tu mesmo, o leitor, que lês o livro, ainda mais porque são narrados na primeira pessoa.
E, todos os livros que lemos neste livro, levam a um único livro:

"Se numa noite de inverno um viajante, fora da povoação de Malbork, debruçando-se da encosta íngreme sem temer o vento e a vertigem, olha para baixo onde a sombra se adensa numa rede de linhas que se entrelaçam, numa rede de linhas que se intersectam no tapete de folhas iluminadas pela lua em torno de uma fossa vazia, - Que história lá em baixo espera o fim? - pede, ansioso por ouvir a narrativa."


Enumero aqui os títulos dos “romances” apresentados e seus autores- alguns deles supostos – que Calvino nos apresenta:
Se numa noite de inverno um viajante, de Italo Calvino;
Fora da povoação de Malbork, do polaco Tatius Bazakbal;
Debruçando-se na encosta íngreme, do poeta cimério Ukko Ahti ;
Sem temer o vento e a vertigem, do címbrico Vorts Viljandi;
Olha para baixo onde a sombra se adensa, de Bertrand Vandervelde;
Numa rede de linhas que se entrelaçam, de Silas Flannery;
Numa rede de linhas que se interceptam, Flannery/ Marana;
No tapete de folhas iluminadas pela lua, de Takakumi Ikota;
Em torno de uma fossa vazia, de Calixto Bandeira;
Que história lá em baixo espera o fim?, Anatoly Anatolin.

Nomes de autores e livros que temos a impressão de ter visto em alguma prateleira de livraria.

O esquema do romance é composto por duas camadas:
A primeira, formada por doze capítulos numerados, nos quais encontramos acções do Leitor em busca do romance inicial;
A segunda, formada por dez “romances”, ou começos de romance que lemos junto com O leitor.
Essas duas camadas são costuradas, quase se confundem uma com a outra, demonstrando que ler e viver são actividades homólogas.

Então em toda esta viagem e mudança de perspectiva, perdes-te na absurda irrealidade da existência e encontras-te a perguntar pelo sentido de tudo, principalmente pela peculiaridade das histórias que terminam sempre abruptamente, deixando-te com água na boca, e quando retomam são já outras encarnações.

Todos os livros que lemos, levam-nos a um Único Livro!!!!!


Por fim, a construção labiríntica da obra é constantemente reafirmada.
Do mesmo modo que a conclusão de Cidades Invisíveis é de que todas aquelas cidades são uma só, aqui neste livro acaba da seguinte forma: 

 “- Só mais um bocadinho. Estou quase a acabar Se numa noite de inverno um viajante, de Italo Calvino.”






sábado, 24 de março de 2018

Chuva






a princípio a chuva
é como uma árvore delicada e mansa

para a terra que esperou meses que viesse
para a terra que gemeu estalidos de trigal
para a terra que sentiu dentro de si
a voz oculta, persuasiva das sementes
implorando
para a terra fendida e submissa
a chuva é também um macho rude
urgente e cumpridor

a chuva veio     
tímida árvore de outono
começou por espalhar algumas gotas
grossas e dispersas pelo chão
que mal molhou

mas logo
repetido ao infinito o testemunho
já líquida navalha
rasga no solo marcas de saciedade


A. M. Pires Cabral






O Princípio Feminino, no Homem e na Mulher




O poder 
é uma das características fundamentais 
do masculino no homem e na mulher. 
O poder na forma de dominação, 
entretanto, 
representa uma patologia. 



Por isso, nossa civilização, estigmatizada pela dominação em quase todas as áreas, produz a inflação do masculino, do patriarcalismo e do machismo. São produtos do patriarcado o tipo de ciência que praticamos e o tipo de desenvolvimento que operamos. Ambos são reducionistas, fragmentados e excludentes da natureza e da mulher. Nesta forma, o poder-dominação não desumanizou apenas os homens, mas também as mulheres. Os homens recalcaram sua dimensão de anima e não permitiram que as mulheres realizassem sua dimensão de animus.

Em razão dessa errância, fica claro que a questão do masculino, nos dias de hoje, reside no feminino negado, reprimido ou não integrado. Para ser plenamente humano, o homem precisa reanimar nele o seu feminino e reeducar o seu masculino. Somente então podem ambos, homem e mulher, entreter relações civilizatórias, humanitárias e realizadoras do mistério humano feminino-masculino.

A grande TAREFA CIVILIZACIONAL, talvez a mais urgente nos dias atuais, consiste no RESGATE do PRINCÍPIO FEMININO. Chamo atenção para o fato de que não falo de categoria feminino/masculino, mas de princípio feminino/masculino. Afasto-me decididamente da ideologia do gênero, sexista, baseada no sexo biológico, que constrói social e culturalmente as categorias do masculino e do feminino de forma dualista e excludente. Ela distribui os papéis, os valores e os antivalores: a criatividade, a atividade e a violência tributados ao masculino; e a passividade, a receptividade e a não-violência, ao feminino.

Precisamos ultrapassar essa visão excludente e entender a sexualidade num nível ontológico, não como algo que o ser humano tem, mas como algo que ele é. O masculino não diz respeito somente ao homem, mas também à mulher. O feminino não ganha corpo apenas na mulher, mas também no homem. Esse FEMININO representa o PRINCÍPIO de VIDA, de criatividade, de receptividade, de enternecimento, de interioridade e de espiritualidade no homem e na mulher. Portanto, trata-se de um princípio inclusivo e seminal que entra na constituição da realidade humana.

O resgate do princípio feminino junto com o do masculino propicia uma nova inteireza à humanidade, ao transcender as distorções na relação homem-mulher e ao ultrapassar o sexo biológico de pertença. Significa não somente libertação dos humanos, especialmente da mulher, mas também da natureza e das culturas não estruturadas no eixo do poder-dominação, equiparadas ao fraco e ao frágil - portanto, ao feminino cultural.

A recuperação do princípio feminino permite um processo de libertação mais integral e verdadeiramente includente, pois parte do feminino oprimido. O oprimido tem um privilégio histórico e epistemológico pelo fato de possuir uma percepção mais alta que inclui o opressor enquanto ser humano. O opressor exclui o oprimido, pois o considera uma coisa ou um ser humano menor, subordinado e dependente. A libertação deve começar pelo oprimido para acabar com o opressor. Só então ambos se encontram sobre o mesmo chão comum, como humanos, construindo juntos, na igualdade e na diferença, a sociedade e a história.

A inclusão do princípio feminino obrigará toda a cultura masculinizante a questionar seu paradigma fundacional. Ele radica-se no poder-dominação, hoje vastamente em crise. O pensamento da crise, no interior do mesmo paradigma, não pode trazer soluções. O veneno que mata não pode ser o remédio que cura. Os únicos que podem oferecer algo alternativo e terapêutico são aqueles que foram vistos como incapazes de pensar, por não serem suficientemente racionais e produtivos. Ora, os que pretendiam trazer as luzes (os iluministas) nos conduziram às trevas atuais. Os que se propunham a difundir a razão, a ciência e a técnica por todos os quadrantes nos estão conduzindo ao pior, à destruição e ao desaparecimento.

O princípio feminino é sanador e libertador, pois se move num outro paradigma e opera numa outra lógica. Seu paradigma básico é a vida, e não o poder; o respeito e a veneração pela vida, e não a agressão e a dominação. A lógica da vida não é a redução e o isolamento, arrancando os seres do seu meio real e analisando-os em si mesmos ou manipulando células, genes e microorganismos fora de seu ecossistema. A lógica da vida é a complexidade, é a teia de interações em todas as direções e em todos os lados, é a sinergia e a panrelacionalidade.

Ora, o feminino consiste na capacidade de viver o complexo, de elaborar sínteses, de cultivar o encantamento do universo, de cuidar da vida, de venerar o mistério do mundo, de elaborar um desenvolvimento com a natureza, e não contra ela, de alimentar o esprit de finesse para contrabalançar o esprit de géometrie.

O feminino - porque obedece à lógica do complexo e porque naturalmente é inclusivo - representa o único caminho para a humanidade, para um planeta sustentável e para a convivência pacífica e solidária entre o Norte e o Sul.

A introdução do princípio feminino representa um desafio ao paradigma machista, cujo desenvolvimento e prática técnico-científica implicou o domínio, a destruição, a violência, a expropriação e a marginalização da mulher e da natureza, hoje considerados supérfluos.
O princípio feminino propicia uma economia política da vida, devolve importância à natureza, resgata o sentido da Terra como Grande Mãe, superorganismo vivo, Gaia e Pachamama.
Ele se transforma num caminho não violento de interpretação e transformação do mundo, num reforço de todos os processos sinergéticos que respeitam a diversidade e que nela buscam convergências que interessam a todos, o bem comum humano e sociocósmico.

O homem que evoca em si e integra sua dimensão de anima incorpora, junto ao seu vigor, a ternura; junto ao trabalho, a gratuidade; junto à razão, a emoção; junto ao logos, o pathos e o eros. Ele emerge mais humano, relacional e liberto das malhas que o desumanizavam e desumanizam a mulher e a natureza. Agora, diferentes e juntos, podem construir o humano de forma mais dialética, tensa, dinâmica, aberta a novas e surpreendentes sínteses.


LEONARDO BOFF




quinta-feira, 22 de março de 2018

'Progress' (a. k. a. 'The Dream Before')





Hansel and Gretel are alive and well
And they're living in Berlin
She is a cocktail waitress
He had a part in a Fassbinder film
And they sit around at night now drinking schnapps and gin
And she says: Hansel, you're really bringing me down
And he says: Gretel, you can really be a bitch
He says: I've wated my life on our stupid legend When my one and only love was the wicked witch. She said: What is history?
And he said: History is an angel being blown backwards into the future
He said: History is a pile of debris
And the angel wants to go back and fix things
To repair the things that have been broken
But there is a storm blowing from Paradise
And the storm keeps blowing the angel backwards into the future
And this storm, this storm is called Progress


Laurie Anderson







Hansel e Gretel, é um conto de fadas, escrito pelos irmãos Grimm ( os alemães Jacob e Wilhelm).
A fábula relata as aventuras de dois irmãos, Hansel e Gretel, filhos de um pobre lenhador, que moravam na floresta.

Um dia, enquanto o pai trabalhava, a madrasta estava a fazer uma torta, e saiu para colher amoras na floresta e pediu a Hansel e Gretel para cuidarem da casa enquanto ela estivesse ausente. Quando ela voltou da floresta encontra a casa toda desarrumada e a torta que estava a preparar, no chão. Ela ficou muito brava com eles e mandou-os irem colher amoras na floresta.

Floresta a dentro, as crianças iam jogando migalhas de pão no chão para que pudessem encontrar o caminho de casa pelo trilho que faziam. Porém, quando resolvem voltar para casa percebem que as migalhas tinham sido comidas pelos pássaros da floresta e que estavam perdidos. Enquanto procuravam o caminho de volta para casa, Hansel acaba por encontrar uma casa feita de doces no meio da floresta. Com muita fome depois de tanto tempo a procurar o caminho de volta para casa, Hansel chama Gretel para comerem as guloseimas da casa. Enquanto as crianças se deliciavam com os doces, uma velha bruxa aparece de dentro da casa e convida-os para entrar.

Lá dentro, a velha e feia bruxa dá-lhes mais do que comer até não aguentarem mais. Porém, toda a aparente gentileza da senhora não passava de um plano para comer as criancinhas. Ela prende Hansel e Gretel para que pudesse assá-los, porém, espertas, as crianças descobrem o plano da bruxa e a enganam, lançam um feitiço para hipnotizarem a bruxa atirando-a para dentro do forno que a velha usaria para cozinhá-los. Livres da bruxa, Hansel e Gretel são encontrados pelo pai, cuja mulher havia morrido, e voltam para casa levando consigo o dinheiro que estava dentro da foice da bruxa, suficiente para o resto de suas vidas.






quarta-feira, 21 de março de 2018

Os amantes sem dinheiro





Tinham o rosto aberto a quem passava.
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.

Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.

Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.


Eugénio de Andrade






terça-feira, 20 de março de 2018

A caminho do Amor pela estrada do medo





Lá chegará o tempo em que já vibramos num tão elevado estado de Amor, que a escolha perante o Amor e o medo será óbvia e automática. A cada encruzilhada, o Amor e todas as suas infinitas representações e manifestações será imediatamente reconhecido, validado perante as vibrações densas do medo e logo, a escolha, será fácil e fluída.

No nosso tempo, o medo ainda se sobrepõe ao Amor. Ainda temos uma dificuldade imensa de distinguir uma energia da outra. Facilmente nos confundimos ou iludimos e caímos que nem uns patinhos, principalmente quando o medo se disfarça de amor.
Não é raro encontrarmos este fenómeno por exemplo na pessoa sem qualquer respeito pessoal ou amor próprio que diz amar perdidamente alguém. Ou também na pessoa que confunde o seu estatuto social ou riqueza material com amor próprio. 
Uma das maneiras mais fáceis então de percebermos se andamos iludidos é tomarmos consciência de onde anda o nosso foco.


  • Está no que está fora? 
  • No que os outros dizem ou acreditam ou esperam de ti? 
  • Está na segurança material de um bom emprego ou de dinheiro no banco? 
  • Está na ilusão das relações sem qualidade que manténs no trabalho ou na família?
  • Ou, pelo contrário está dentro de ti honrando o ser único e diferente que és e no que sentes? 
  • Tens o foco nos teus potenciais, na tua segurança e confiança, no teu amor próprio e sentido de responsabilidade pela tua felicidade? 
  • Está na tua liberdade e alegria de seres quem és e de escolheres dar vida aos teus sonhos e honrares a tua história pessoal?
  • Resumindo, ainda precisas de retorno externo ou já aprendeste a validar-te a ti mesmo e a aceitar amorosamente quem és e a fazer escolhas de qualidade?


Onde está o teu foco, está a tua energia. 
E onde colocamos a nossa energia, virão as respectivas consequências.
A densidade do medo, nos tempos que correm ainda é a energia dominante. O mundo e a densidade do ser humano é prova disso. Ainda nos é imensamente difícil escolher pelo Amor pois os preços a pagar por tais escolhas são elevadíssimos e por isso mesmo o Amor acaba, na maior parte das vezes, por ser uma escolha adiada.

É então pela experiência que a humanidade, neste estágio, aprende.
Ou seja, como a escolha simples do Amor não é fácil ou sequer possível, se estamos desconectados internamente do Amor e permitindo que o medo ganhe, precisamos percorrer o caminho do que NÃO É AMOR, para que um dia a escolha do Amor possa ser óbvia e feita sem hesitação.



Vera Luz