quinta-feira, 31 de maio de 2018

Pior que não Cantar


Misha Gordin




Pior que não cantar 
é cantar sem saber o que se canta 

Pior que não gritar 
é gritar só porque um grito algures se levanta 

Pior que não andar 
é ir andando atrás de alguém que manda 

Sem amor e sem raiva as bandeiras são pano 
que só vento electriza 
em ruidosa confusão 
de engano 

A Revolução 
não se burocratiza 



Mário Dionísio
in, 'Terceira Idade' 




Eutanásia, Mistanásia, Distanásia e Ortotanásia...










"O que fica claro para quem foi ouvindo o debate no parlamento de hoje é que quem votou contra os projetos-lei em causa de certeza que não os leu.
Quem ouvisse alguns dos argumentos do "contra", quase que podia ficar com a ideia de que a eutanásia era uma forma de vagar camas nos hospitais, poupar em custos de cuidados paliativos, que até uma pessoa com uma constipação ou com 37º de febre podia pedir a morte assistida e que um médico a quem fosse pedido para realizar a morte assistida, era obrigado a isso, mesmo que se recusasse, quase como se houvesse uma força de intervenção especial o ia castigar se ele não quisesse espetar a agulha.

Não: havia, em todos os projetos-lei, garantias de que só pessoas maiores de idade, com doenças incuráveis e em estado terminal, a passar por um sofrimento agudo e com autorização expressa poderiam requerer a morte assistida, podendo ainda qualquer profissional de saúde competente para tal efeito, recusar-se, advogando objeção de consciência.

Não há qualquer relação de mútua exclusividade entre eutanásia e cuidados paliativos, como muitas vezes sobretudo a bancada do CDS tentou afirmar.
Se alguém não optasse pela morte assistida e preferisse estar em cuidados paliativos até à sua morte, teria sempre esse direito.

Quanto ao investimento do Estado em cuidados paliativos, ele deve ser aumentado, naturalmente, para que mais pessoas a eles tenham acesso, e essa seria sempre a lógica, houvesse ou não eutanásia. Fosse esse investimento negligenciado ou declaradamente excluído por qualquer futuro governo, caberia ao parlamento instar esse governo a retomá-lo, utilizando os seus instrumentos que constitucionalmente lhe são atribuídos, para garantir que os cuidados paliativos continuavam uma realidade.

Desmantelados estes argumentos que, sinceramente, nem uma criança convenceriam, passamos à questão que moveu e motivou este chumbo. A questão da moral.
E o problema é que muitos (pelos vistos, a maior parte) continuam a crer que o caminho para uma sociedade mais justa, mais feliz e mais harmoniosa é o de haver uma imposição de certa moral a toda a sociedade.
Que alguns de nós acolham uma conceção de moral que não nos permite compactuar com a eutanásia, assim como com outras questões controversas, isso é normalíssimo e todos têm esse direito. Mas não há direito em impor a nossa conceção de moral, e, para muitos, de religião, sobre os outros, ainda que a ela não adiram, só porque achamos que é a melhor.
E foi o que aconteceu.

É constrangedor ver a dificuldade do "contra" em arranjar argumentos para disfarçar esta imposição, porque realmente há poucos argumentos "contra", para além de uma ideia que a moral e a religião oferecem a cada um.
Pois quem adere a uma moral e religião que condena e impossibilita estes atos de morte medicamente assistida, então, quando passar por um sofrimento atroz, insuportável, sem conseguir falar, mexer-se, comer, sorrir, que continue a viver com isso até morrer, porque é essa a sua escolha.
Mas que deixe os outros rejeitar esse sofrimento inumano, que os deixe morrer se cada um achar que a morte é mais digna que uma vida reduzida a dor.
Não há direito, mesmo.
Porque no que toca às liberdades mais pessoais de cada um, é cada um que deve decidir o que fazer."


Margarida Martins





Moral e Religião...
Diz-se muita coisa, falsos argumentos, e escuta-se muito pouco.
Há quem veja aqui a abertura de uma porta perigosa, não os projectos-lei em si, mas as consequências comportamentais futuras em termos de Ética e de Moral.
O mesmo aconteceu com a despenalização do aborto.
E no entanto, felizmente, ele foi aprovado por referendo.

Mais de metade dos portugueses ainda confunde conceitos como eutanásia ou distanásia.
Se isto não foi entendido, então ainda bem que os projectos-lei foram chumbados.
A seu tempo será aprovada a eutanásia em Portugal, esperemos que de uma forma mais esclarecida.

É preciso realmente entender-se muito bem o que se quer garantir: o direito a escolher sofrer o menos possível numa morte breve e pré anunciada e sem salvação possível.
Porque não começar por aqui????
Quem é contra a eutanásia nunca se deparou realmente com alguém próximo em elevado grau de sofrimento e degradação humana. Não me venham com tretas de "é preciso ajuda psicológica aos doentes para que aprendam a lidar com a dor e a manterem-se positivos"...
Como ser positivo quando se sabe qual vai ser o fim e que só vai piorar?
Acho que é uma escolha que só cabe a quem passa pela situação.

Moralismos só para os teóricos, por vezes pessoas que têm sempre de ser do contra e gostam de impor a sua opinião aos outros, ou então pessoas dominadas pelas velhas imposições da Religião...
"A vida é um bem absoluto e por isso tem de ser absolutamente protegido e promovido", defendeu o cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente.
Nem quero imaginar o que foram as homilias nas missas estas últimas semanas, a lavar o cérebro aos crentes...a incutir-lhes sentimento de culpa e medo do castigo de deus caso sejam a favor da eutanásia...

Nem todos os casos são óbvios!
Mas não podem pagar uns pelos outros.
Há doenças terminais que os médicos já sabem o fim da história, mas omitem esse final aos pacientes para os poupar ao sofrimento... se lhes explicassem como vai ser a sua morte em breve, tenho a certeza que alguns pacientes, assim que começassem a definhar, iriam querer por fim a um sofrimento gratuito e completamente desnecessário. Por amor e dignidade a si próprios. Falo do direito a ser autónomo e a morrer com dignidade nos casos em que são óbvios.
O que não é óbvio tem de ficar para mais tarde, até termos mais conhecimento sobre a matéria, mas não é fazendo disto um tabu que vamos aprender a lidar com a situação!

Acho que o início seria ter uma lei mais restrita e aos poucos alargar a outros casos.
Salvaguardando doentes terminais de escolherem o seu desfecho.
Acho que em situações irreversíveis e degenerativas, devemos ter sempre o direito à escolha:
1- Recorrer aos cuidados paliativos, morrer a definhar lentamente, completamente dopado e dependente dos outros para tudo, e numa luta interior constante...
2- Escolher quando chegou a hora de se despedir dos que amam de uma forma consciente e lúcida, e partir em paz, de uma forma tranquila, em aceitação de que se chegou ao fim da viagem.

Ao contrário do que foi dito tanta vez, a eutanásia não pressupõe o fim dos cuidados paliativos.
Uma coisa não anula a outra.
Apenas se dá a possibilidade de escolher uma solução diferente dos cuidados paliativos.
Nem todos querem morrer assim!!!
Eu não quero!!!!

Os cuidados paliativos devem ser melhorados para quem quer optar por essa via.
A lei deve assegurar que as pessoas não desejam a morte para não serem um fardo para a família, por serem manipulados pela família para o fazerem, para reduzir custos nos hospitais por parte do Estado, e sim porque querem escolher a forma como querem morrer, quem querem ter ao lado, e fazer a passagem de forma consciente e em paz, de uma forma tranquila, no sítio que escolherem...
Todos temos o direito a escolher como queremos morrer!!!!!
Tal como aconteceu com o Aborto, também com a Eutanásia temos de ter o direito a escolher como queremos morrer.
Os Maias e os Astecas sempre o fizeram e continuam a fazer ainda hoje...

Deixem de querer mandar na vida dos outros!!!
Com a despenalização da eutanásia, tal como com a despenalização do aborto, cada um é livre de escolher o que quer fazer com a sua vida!!
É um direito que todos devemos ter!!!!
Quem quer faz, e quem não quer não faz!!!!!
Nem se impõe ao doente fazer, nem se impõe ao médicos e enfermeiros fazê-lo.
Assim como não se impõe não o fazer, a quem quer recorrer à eutanásia.
Só faz quem quer!!!!
E os que querem fazer, não devem ser penalizados por isso, e devem haver instituições preparadas para o fazer de uma forma digna de acordo com a vontade do paciente, que esclareçam e informem os pacientes para que possam decidir em consciência.


 MAIS INFORMAÇÃO AQUI:

Cena final do filme Mar Adentro, e testamento de Ramón Sampedro

Poder escolher como se quer morrer

Eutanásia






Mas, os abusos devem ser evitados,
E por isso, sou a favor da eutanásia e suicídio assistido, mas de uma forma muito restrita!


  • É importante conhecer a experiência internacional sobre a lei da eutanásia na perspetiva de contribuir para um debate, mais objetivo, mais aberto e menos emotivo.
  • É, igualmente necessário, sensibilizar, a classe política portuguesa e a comunicação social para os abusos da lei da eutanásia, antes de legislar.


Segundo o Relatório do Centro de Bioética de Anscombe, Oxford (2015) sobre a prática da eutanásia e do suicídio assistido na Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Suíça, Oregon e Washington:

O número de novos casos de eutanásia tem vindo a aumentar em todos os países que despenalizaram a eutanásia. Em 2014, na Holanda o número de mortes por eutanásia foi 4.829. Comparativamente ao ano de 2013 houve um aumento de 14%. Recentemente estimou-se que um em cada 33 holandeses morre de eutanásia e, 650 bebés são, anualmente, mortos por eutanásia. Na Suíça no ano de 2014, o número de mortes por suicídio assistido aumentou 27% comparativamente a 2013 (538 vs 124). Neste país, ao longo da última década, a taxa de suicídio assistido em pessoas idosas triplicou nas mulheres e duplicou nos homens. A taxa elevada de suicídio assistido no idoso poderá correlacionar-se com o envelhecimento moral da sociedade.

O pedido explícito de eutanásia é cada vez menos respeitado.
A morte administrada a pessoas contra a sua vontade, e/ou sem o seu consentimento por não estarem capazes de o fazer, por um médico, enfermeiro ou um familiar não é eutanásia: é homicídio. Assim, constata-se que a prática da eutanásia engloba o homicídio sem nenhuma condenação judicial. Neste contexto, a eutanásia é adjectivada como − eutanásia não voluntária − uma vez que não é justificada pelo princípio da autonomia do doente. O estudo de Van der Maas, sobre as decisões de fim de vida praticadas por médicos holandeses, revela que, em mais de mil casos, os médicos precipitaram a morte de doentes lúcidos e capazes de se exprimir, sem o conhecimento destes.

Em 70% dos casos os médicos apressaram a morte por acharem que os doentes tinham “ má qualidade de vida”. Na Bélgica, estatísticas igualmente alarmantes indicam que em milhares de casos, os médicos decidem intencionalmente pôr fim à vida dos seus doentes, e não são objecto de nenhuma pergunta. Assim como na Holanda, os médicos belgas, matam intencionalmente bebés. Bebés com deficiências graves mas também crianças com paralisia cerebral. Estes factos comprovam o maior paradoxo da despenalização da eutanásia. A lei da eutanásia, em vez de aumentar o poder dos doentes intensificou o poder dos médicos. Ao sugerirem a eutanásia aos seus doentes e ao tomarem frequentemente, sem o seu conhecimento, a decisão de os matar, os médicos exercem um poder exorbitante. Ficam Senhores da morte. Não mais registam a hora final de uma vida, escolhem-na, segundo o seu livre arbítrio.

Esta crescente “medicalização” da morte também se observa na classe de enfermagem. Um estudo recente mostra que existem enfermeiras belgas que decidem, preparam e administram a eutanásia ultrapassando, claramente, as suas competências profissionais, sem nenhum constrangimento legal. Estes factos demonstram, inequivocamente, que é preciso ter muita prudência em relação à lei da eutanásia uma vez que esta lei oferece a tentação de ser utilizada para dar a morte por impulso.

No que concerne à utilização de eutanásia nos doentes oncológicos é particularmente preocupante verificar a prática “normalizada” da eutanásia nos doentes terminais. Para muitos doentes oncológicos em fim de vida a alternativa, viável, da medicina paliativa não é sequer aconselhada. Nesta população, vulnerável, a dor justifica 27% das eutanásias.

Outra transgressão da lei da eutanásia relaciona-se, novamente, com o princípio da autonomia. A lei da eutanásia exige a morte como um direito para doentes que querem morrer dignamente, ou seja, em plena posse das suas faculdades mentais e senhores de si. O pedido é lúcido, racional e mantido pelo doente, apesar das alternativas que lhe são propostas.

Porém, assiste-se a um aumento do número de mortes por eutanásia de pessoas com perda de autonomia. De facto, na Holanda em 2014, o número de pedidos de eutanásia para doenças não terminais aumentou comparativamente a 2012. Este aumento foi 46% na eutanásia de doenças relacionadas com a terceira idade, 130% na eutanásia de doenças por demência e de 200% na eutanásia por distúrbios mentais.

Nestas circunstâncias como se pode garantir que o pedido é inteiramente voluntário se a capacidade de decisão e de entendimento está perturbada? Tal como está, a lei permite abusos na população de doentes com saúde física mas em sofrimento psicológico e, naqueles com doença crónica que podem viver durante anos.

É preocupante verificar como na Suíça, a taxa de suicídio assistido associada a doenças não terminais aumentou de 22% para 34% entre 1990 e 2001-2004. Os membros da associação mais antiga que reivindica o direito de morrer com dignidade – EXIT – asseguram que a razão mais comum para ajudar alguém a abreviar a sua vida após solicitação explícita é a “preocupação com a vida” em vez de “doença terminal”. Para a maioria dos membros desta associação, preocupações afectivas, familiares, económicos, e psicológicos justificam a prática do suicídio assistido.

Outro estudo suíço de 2014 revelou que em 16% das mortes ocorridas por suicídio assistido não se identificou a causa clínica que pudesse justificar a decisão de pôr termo à vida. Este tipo de situações revela, novamente, a existência de prática abusiva de suicídio assistido. A aceitação para eutanásia de pessoas “preocupadas com a vida” ou “sem doença clínica mensurável” é particularmente perigosa, pois abre as portas a inúmeros abusos da lei independentemente do estado de saúde ou de doença da pessoa. Por outro lado, a lei nem sempre garante o direito das pessoas que se decidiram pela eutanásia de alterarem a sua decisão. Deste modo é grave verificar que o tempo de reposta da EXIT para suicídio assistido, após primeiro contacto, é inferior a uma semana em 23% é inferior a 24h em 9%.

Para o sofrimento mental, a lei permite cada vez mais abusos uma vez que os doentes psiquiátricos holandeses fundamentam, cada vez mais, o pedido de eutanásia por solidão. Deste modo, é preocupante verificar como a eutanásia é, actualmente, utilizada para substituir a intervenção de suporte psicossocial, em doentes que não esgotaram todas as linhas de tratamento psiquiátrico.

O balanço internacional sobre eutanásia é uma catástrofe humana. Milhares de europeus recebem a eutanásia sem o saberem. Porque será que a Europa minimiza esta evidência? Por razões politicas! É preciso ousar enfrentar a política governamental pró-eutanasia, dos Países Baixos que mata, indiscriminadamente, as pessoas vulneráveis, destroçadas e marginalizadas. Como é possível ser, contra a pena de morte e ser a favor da eutanásia? A partir do momento que é politicamente aceitável suprimir a vida, situamo-nos num plano inclinado em que o valor da Vida Humana é questionado.

Embora tecnicamente o conceito de “rampa deslizante” se restrinja ao aumento do número de mortes sem consentimento explícito, a verdade é que as estatísticas também demonstram o efeito da “rampa deslizante” no aumento exponencial do número de mortes por eutanásia e no alargamento das indicações para eutanásia (de doentes oncológicos terminais para doentes sem doença terminal ou mesmo sem doença fatal, e para pessoas de qualquer idade).

A Europa tem a obrigação de defender os mais vulneráveis e sancionar aqueles que cometem, novamente, monstruosos abusos contra a Humanidade muito semelhantes ao programa T4 da época nazi. Porém, se os europeus deixarem tudo como está, a tendência será para generalizar a prática da eutanásia a todos os Estados Membros da União Europeia e alargar ainda mais o âmbito da sua utilização. Assim, é necessário sensibilizar a classe política portuguesa e a comunicação social para a irreversibilidade social da legalização da prática da eutanásia e do suicídio assistido. A aceitação parlamentar de um projeto de lei sobre a eutanásia sugere a normalização da conduta.

Nos Países Baixos a “normalização” da prática da eutanásia já aconteceu e o retrocesso da norma da lei parece impossível. Nestes países existem equipas multidisciplinares hospitalares e comunitárias, consentidas pelo sistema de saúde, que identificam e pressionam os vulneráveis da sociedade a pedirem a eutanásia com toda a normalidade. Por outro lado, existem movimentos civis na sociedade belga para restringir os direitos à objeção de consciência de médicos, enfermeiros e das instituições de saúde à lei da eutanásia. Recentemente, movimentos na sociedade holandesa conseguiram, a extensão da prática da eutanásia dos filhos para os pais doentes (auto-eutanásia, isto é, sem qualquer intervenção de profissional de saúde, em Chabot, B.E., Goedhart, A., 2009. A survey of self-directed dying attended by proxies in the Dutch population, Soc. Sci. Med. 68 (10), 1745e1751) e, já se notam sinais para a eutanásia poder ser encarada como um direito humano.

Com a sociedade instrumentalizada os chefes dos governos dos países que legalizaram a eutanásia deixaram de investir na área da medicina paliativa (Eutanásia politica). Por conseguinte, é necessário muita prudência antes de escolher legislar, pois não existem mecanismos de controlo eficazes para monitorizar as práticas da eutanásia nem para assegurar a legalidade dos procedimentos.

Maria Margarida Teixeira
Médica Oncologista





quarta-feira, 30 de maio de 2018

CORAÇÃO





Deixa ver se lembro
o coração
se é poema ainda no meu corpo

se ao encostar nele
a minha mão
e com ela escrever ainda o ouço

Deixa ver se entendo
a cor das lágrimas
correndo devagar pelo meu rosto

se as entorno dentro do olhar
e ao torná-las suspensas
logo as pouso

Deixa ver se encontro
entreaberta
a branda açucena do meu gosto

e ao entregá-la ao fogo
dos teus lábios
a desfolho devagar a contragosto


Maria Teresa Horta
in, Poesis




SERÁ QUE AMAS DE FORMA NATURAL OS TEUS FILHOS?




À medida que os pais crescem 
no respeito por si mesmos, 
melhores pais se tornam.



Todo aquele que foi criado sem amor, tem sempre maior dificuldade em ser ele próprio.

Pode parecer estranho afirmar isto, mas a verdade é que a falta de amor na infância cria um adulto com muita dificuldade em fazer valer as suas opiniões e em sentir-se seguro de si mesmo.
Sem amor, não existe uma educação com respeito, senão através do medo.
Sem respeito por si mesmo, existe apenas um adulto com a vontade de cumprir obrigações e deveres para ser aceito entre os outros e poder ter a sensação de que consegue sobreviver num mundo que lhe exige demasiado e muito pouco lhe dá.

A falta de amor faz com que se cresça com uma falta de respeito e confiança em si mesmo. 

Isto ditará atitudes de sobrevivência e desrespeito em demasia. 
Tais atitudes geram frustração, insegurança e sofrimento, porque ninguém que não se respeita consegue se sentir  seguro e confiante.

Uma educação sem amor é uma educação sem liberdade. 
Quem educa sem amor, cria adultos sem a capacidade de acreditar em si mesmos.
Muitos adquirem comportamentos agressivos e necessidade de esconder toda a sua insegurança e falta de amor-próprio. Aliás, a ânsia de poder é uma das formas mais óbvias de colmatar a falta de amor.


Existe uma diferença entre serem supridas todas as necessidades da criança e existir amor na criação. 

Pais que não amam a si mesmos, não conseguirão amar os seus filhos. 
Aquilo que sentem por eles é acima do que alguma vez sentiram por alguém, mas mesmo assim, nas alturas mais difíceis, perdura um amor egoísta, o que quer dizer que não é amor, mas uma necessidade, uma necessidade de ser amado pelos filhos e de ver realizadas as suas expectativas em relação a eles.

Não me julguem pelo que digo, mas a verdade é mesmo esta.
Só podemos dar o que somos.
Se não nos amarmos, não conseguiremos amar ninguém.
De alguma forma, precisaremos do que nos dão e fazem sentir.

Muitos pais julgam que amar um filho é querer o melhor para ele. 
O problema é que muitas vezes esse melhor esconde apenas a sua própria vontade e não a escolha dos filhos.
Amar um filho é libertá-lo e permitir que ele escolha, muitas vezes, aquilo que não queremos para eles.

A concepção de vida dos filhos é quase sempre diferente da dos pais. 
Eles têm a sua própria sensibilidade e aspiram viver coisas muito particulares, aspiram viver os seus sonhos. A contestação que possam fazer diante da resistência dos pais é muitas vezes vista por estes como personalidade rebelde, do contra, fruto de irresponsabilidade.
O segredo é perguntar aos filhos o que querem, escutá-los, atendê-los, fazê-los saber que, independentemente de não concordarmos com as suas escolhas, estaremos presentes para quando precisarem de nós, enquanto pais e amigos.

Muitos pais não sabem e têm medo de ser amigos dos seus filhos. 
O receio de que os filhos percebam as suas supostas fraquezas fá-los assumir papéis de duros e inflexíveis, que criam distância e decepção nas crianças e adolescentes.
A boa notícia é que os pais podem mudar no amor pelos seus filhos, através do respeito por si mesmos. Não é fácil, porque muitos pais justificam a si próprios diante da sua ideia de fazer o melhor que sabem.
A verdade é que esta desculpa é uma forma fácil de lavar as mãos diante dos maus resultados, ou seja, dos filhos desviarem daquilo que eles esperavam deles.

À medida que os pais crescem no respeito por si mesmos, melhores pais se tornam. 
A ideia de que é tarde demais para mudar é uma perfeita estupidez.
Conheço pais que deixaram de sentir um amor egoísta pelos filhos e aprenderam a amá-los em liberdade e confiança. A questão é até onde os pais estão dispostos a ir pelo respeito a si mesmos e, consequentemente, aos seus filhos.
Não é fácil mudar de atitude e ver tudo de forma diferente.
No entanto, é fundamental que nos respeitemos enquanto pessoas, para podermos ser melhores pais para os nossos filhos.

Não há outro caminho. Não existe outra forma.


José Micard Teixeira





segunda-feira, 28 de maio de 2018

Para Ser Lido Mais Tarde


REEDEXTER





Um dia 
quando já não vieres dizer-me Vem 
jantar 

quando já não tiveres dificuldade 
em chegar ao puxador 
da porta quando 

já não vieres dizer-me Pai 
vem ver os meus deveres 

quando esta luz que trazes nos cabelos 
já não escorrer nos papéis em que trabalho 

para ti será o começo de tudo 

Uma outra vida haverá talvez para os teus sonhos 
um outro mundo acolherá talvez enfim a tua oferenda 

Hás-de ter alguma impaciência enquanto falo 
Ouvirás com encanto alguém que não conheço 
nem talvez ainda exista neste instante 

Mas para mim será já tão frio e já tão tarde 

E nem mesmo uma lembrança amarga 
ou doce ficará 
desta hora redonda 
em que ninguém repara 


Mário Dionísio
in, 'O Silêncio Voluntário' 





Deixar Fluir





Fluir não é confiar cegamente que tudo vai correr bem.
Fluir é permitir que a vida aconteça no seu lado luz mas também no seu lado sombra.
Fluir é manter o equilíbrio.
Fluir é confiar que o desafio tem o seu fundamento karmico.
Fluir é aceitar que atraímos o desafio para a nossa realidade.
Fluir é acreditar que somos os criadores do mesmo e que ele agora volta para lhe darmos resposta positiva, ou seja, tratá-lo com respeito, humildade e sabedoria.
Fluir é saber identificar a frequência velha que ainda dispara, seja a raiva, o ressentimento, a culpa, o medo e ser capaz de transcender esses sentimentos em aceitação e rendição à Ordem Maior da vida.
Vera Luz




sábado, 26 de maio de 2018

After our planet





I

I am writing from a place you have never been,
Where the trains don’t run, and planes
Don’t land, a place to the west,

Where heavy hedges of snow surround each house,
Where the wind screams at the moon’s blank face,
Where the people are plain, and fashions,

If they come, come late and are seen
As forms of oppression, sources of sorrow.
This is a place that sparkles a bit at 7 P.M.,

Then goes out, and slides into the funeral home
Of the stars, and everyone dreams of floating
Like angels in sweet-smelling habits,

Of being released from sundry services
Into the round of pleasures there for the asking—
Days like pages torn from a family album,

Endless reunions, the heavenly choir at the barbecue
Adjusting its tone to serve the occasion,
And everyone staring, stunned into magnitude.

II

The soldiers are gone, and now the women are leaving.
The dogs howl at the moon, and the moon flees
Through the clouds. I wonder if I shall ever catch up.

I think of the shining cheeks, the serious palettes
Of my friends, and I am sure I am not of their
   company.
There was a time when I touched by the pallor of truth,

When the fatal steps I took seemed more like the drift
Of summer crossed at times by the scented music of
   rain,
But that was before I was waved to the side

By the officer on duty, and told that henceforth
I would have to invent my pleasure, carve it out of
   the air,
Subtract it from my future. And I could have no
   illusions;

A mysterious crape would cover my work. The roll of a
   drum
Would govern the fall of my feet in the long corridors.
“And listen,” the officer said, “on any morning look down

Into the valley. Watch the shadows, the clouds dispersing
Then look through the ice into nature’s frozen
   museum,
See how perfectly everything fits in its space.”

III

I have just said good-bye to a friend
And am staring at fields of cornstalks.
Their stubble is being burned, and the smoke

Forms a gauze over the sun’s blank face.
Off to the side there is a line of poplars.
And beyond, someone is driving a tractor.

Does he live in that little white house?
Someone is playing a tape of birds singing.
Someone has fallen asleep on a boxcar of turnips.

I think of the seasonal possibilities.
O pretty densities of white on white!
O snowflake lost in the vestibules of April air!

Beyond the sadness—the empty restaurants,
The empty streets, the small lamps shining
Down on the town—I see only the stretches

Of ice and snow, the straight pines, the frigid moon.

IV

“I would like to step out of my heart’s door and be
Under the great sky.” I would like to step out
And be on the other side, and be part of all

That surrounds me. I would like to be
In that solitude of soundless things, in the random
Company of the wind, to be weightless, nameless.

But not for long, for I would be downcast without
The things I keep inside my heart; and in no time
I would be back. Ah! the old heart

In which I sleep, in which my sleep increases, in which
My grief is ponderous, in which the leaves are falling,
In which the streets are long, in which the night

Is dark, in which the sky is great, the old heart
That murmurs to me of what cannot go on,
Of the dancing, of the inmost dancing.

V

I go out and sit on my roof, hoping
That a creature from another planet will see me
And say, “There’s life on earth, definitely life;

“See that earthling on top of his home,
His manifold possessions under him,
Let’s name him after our planet.” Whoa!



Mark Strand




As tuas crenças limitam-te ou fortalecem-te?





A maior e mais importante mudança 
é aquela que acontece internamente, 
fortalecendo-nos, 
ampliando nossas perspectivas 
e possibilidades.


Quando olhamos à nossa volta e nos vemos numa determinada posição ou situação que não desejamos, nosso primeiro impulso pode ser o de querer encontrar um culpado, um motivo externo que acreditamos precisar compreender, dominar, controlar e/ou mudar.
Entretanto, tudo o que nos acontece é resultado não apenas de nossas ações, mas, também, da forma como pensamos e vemos o mundo que nos cerca, do nosso mapa interior, de nossas crenças.

Crença é toda a programação mental que se vai formando a partir das experiências de vida de um indivíduo.
É a forma como nos sentimos em relação a pessoas ou situações, as verdades que gravamos no nosso inconsciente e que têm reflexos nos nossos resultados, comportamentos, conquistas, atitudes e qualidade de vida.

Podemos, a partir do que nos acontece, construir um sistema de crenças e paradigmas que podem nos liminar ou nos empoderar. Pessoas que, por exemplo, crescem a ouvir que “dinheiro é sujo”, “a vida é dura”, “homem não presta”, “dinheiro não nasce em árvore”, “nada vem fácil”, vão, certamente, construir as suas vidas com base em crenças limitantes, atraindo realidades não desejadas.

Já parou para pensar como se tem comunicado internamente?
O que tem lido, o que assiste, sobre o que mais fala?
Em resumo, quais sistemas de crenças tem construído ao longo da sua vida?

Você já deu por si a pensar: “eu só atraio homem que não presta”, “todos os meus chefes são abusivos”, “nunca consigo emagrecer”, “meus relacionamentos nunca dão certo”, “ele está a trair-me”, “não sou bom o bastante para ela”?
Que realidade você acha que pode produzir, a  focar-se em situações que não deseja?
Acredite, muito do que você tem experimentado na sua vida, as coisas boas e más, são reflexos das suas crenças.

A boa notícia é que elas, quando limitantes, podem ser modificadas, transformadas em visões de mundo que nos fortaleçam e nos conduzem a estados desejados.
A maior e mais importante mudança é aquela que acontece internamente, nos empoderando, ampliando as nossas perspectivas e possibilidades.


Trabalhar o nosso sistema de crenças é fundamental para atrairmos a vida que desejamos:


  • O primeiro passo que pode ser dado no caminho da reprogramação de nossas crenças limitantes é assumirmos a nossa responsabilidade por tudo o que nos acontece, ou seja, reconhecer que fomos nós que atraímos as situações indesejadas que experimentamos. E, se somos nós que produzimos a nossa realidade, é também nossa responsabilidade modificá-la.
  • O segundo passo é ser grato por tudo o que somos, possuímos e nos acontece. Estar a vibrar em sintonia elevada, positivamente. É estar feliz, de bem, preenchido antes mesmo de alcançar aquilo que desejamos. Ou seja, contemplar o momento presente como se os nossos desejos e anseios já tivessem sido conquistados, já fossem reais.
  • O terceiro passo que pode ser dado no caminho da construção de crenças empoderadoras é rever o nosso sistema de crenças limitantes e dar início a reformulações internas, que poderão nos conduzir onde desejamos verdadeiramente estar. Afinal de contas, nós somos co-criadores da nossa realidade.



As crenças são compassos e os mapas que nos guiam em direção às nossas metas e nos dão a certeza de saber se chegaremos lá. 
– Anthony Robbins

O processo de remodelação das nossas crenças nem sempre é fácil.
Por vezes, requer a ajuda de um profissional que nos apoiará a sair da zona de conforto, alçar novos voos com confiança no nosso potencial e conquistar a excelência.

Assim, quando algo não vai bem e desejamos modificar a nossa realidade, devemos assumir a responsabilidade por tudo o que nos acontece, sermos gratos pelo aprendizado e analisar o nosso sistema de crenças, identificando aquelas que são limitantes, para reprogramá-las, transformando-as em crenças fortalecedoras. E lembre-se: o poder já existe dentro de você, basta apenas saber acessá-lo.




Renata Rocha




quinta-feira, 24 de maio de 2018

A história de um dia


Beniamino Pisati





A abóbada da tarde mais uma vez acaba
o sol de a fechar sobre a minha diária aventura
Viram-no partir pontualmente à mesma hora
quando num pouco de dia a um canto sempre a um canto
já eu tinha conseguido arredondar
uma íntima ampola de som para a palavra definitiva
Ia mesmo soltá-la eu que todo o dia fui para ela
quando ele me deixou e foi abrir outras portas
erguer verticalmente caídas esperanças
e passar novas mãos por tantas faces mortas
Só me resta recolher o meu rebanho de pensamentos
com um vago rumor de guizos
enquanto à beira-mar os camponeses deixam
palavras não aladas cair na água morta
Morro irremediavelmente nesses pensamentos
que ainda agora o sol iluminava
enquanto eu os estendia e os recolhia
e os orientava numa direcção que convinha
e os precipitava sobre o fumo de uma casa
sobre um buraco de luz ou uma coluna de fumo
mais volúveis que um bando de pássaros
Morro mais uma vez criticamente completo
Todos os gestos
carregados com vinte e quatro horas de história
de ventre ferido na aventura do restolho
petrificaram inevitavelmente 
na face orientada de uma estátua 
aqui ou noutro jardim 
Todo o caminho é de regresso 
Amanhã serei outro: 
lavarei os dentes com toda a solenidade
como antigamente meu pai antes das grandes viagens 
enquanto alguém no espelho 
se encarregará de olhar pelos meus olhos 
Assim sou passado de dia em dia 
confiado pelo dia que parte ao dia que chega 
não venha o sino que ao longe toca perturbar
as linhas de um rosto que recompus 
e pus de pé na atmosfera doméstica 
Fechar um postigo pode ser um gesto cheio de significado quando 
na arrumada paisagem quotidiana 
a expectativa marcada pela funda inspiração 
nos revela duas ou três mãos
postas sobre a colina 
Amanhã serei outro 


Ruy Belo
in, Obra Poética de Ruy Belo




Amor e Rejeição





Esta é a dor mais profunda que o ego pode sentir. Quando isto acontece e inevitavelmente um dia acontece, o sentimento de perda é brutal. O mundo se abre a nossos pés e nada mais importa ou tem valor na vida. Todas as nossas esperanças de amar e ser amado se desvanecem. Uma profunda depressão é o resultado do sentimento de perda se isso não for contido a tempo. Os olhos perdem o brilho e o mundo torna-se cinzento.

Esse processo pode levar anos para se desfazer e isso pode destruir totalmente a vida da pessoa. Torna-se amargo e ressentido. A um passo do desespero e de atos impensados.
Quantos suicídios vêem daí ?
A rejeição nos atinge desta forma, porque achamos que não temos nenhum valor. Não passa pela nossa cabeça que isso não é um problema nosso; é um problema do outro. Quem está rejeitando é o outro.

Quando se tem o conhecimento e o controle da nossa própria produção de neurotransmissores e hormonass, este sentimento de rejeição pode ser resolvido em questão de horas ou dias no máximo. Todo sentimento tem uma base bioquímica. É uma via de mão dupla.
É possível criar e descriar.
Então podemos tratar a situação de forma racional.

O que devemos fazer numa situação assim ?
O senso comum nos diz para rejeitar também e talvez até odiar a outra pessoa.
É um contra-ataque lógico. Neste caso a lógica não funciona.
O que devemos fazer é continuar amando, emanando amor como sempre fizemos.

Não importa o que o outro faz, devemos continuar amando sempre.
E não é um amor impessoal. É com o mesmo amor que sentíamos. Na verdade não deve haver nenhuma interrupção deste sentimento. Independentemente do que o outro faça. O amor não deve cessar nunca. Desta forma a dor não se instala e continuaremos felizes. Isto pode parecer utópico e impossível para quem lê apressadamente. Podem achar que isso não existe. Que é teoria e romantismo. Não é !

Isso é absolutamente real e possível. Quando se atinge um nível de fusão com o Divino, isso passa a ser o normal. Aliás, não poderia ser de outra forma. Quando nos tornamos amor só podemos amar. Não há como ser diferente. É uma felicidade contínua. Amamos independente das circunstâncias. Mesmo rejeitados continuamos amando o outro. Continuaremos tratando bem, comunicando-nos, amando como sempre, embora não possamos expressar em sua totalidade o amor que sentimos. Porque esse é um problema criado pelo outro.

Esta é a única solução que existe.
A única solução que funciona.
A única atitude que podemos tomar para manter a nossa felicidade.
Continuar amando sem cessar, pois o amor é tudo na vida.


Osho





quarta-feira, 23 de maio de 2018

RUMOR





Visto-me deste silêncio
como de um vestido de folhas.
Como álamo espreguiço o verde
no rumor de muitas águas.

Sou corpo, beijo profundo e desejo
e sinto-me perder nos lençóis
das tuas mãos que me envolvem
e convidam como linho fresco.

Descalça, para lá das montanhas sábias,
as ondas desnorteadas de um mar redondo.
Sei que nas asas de uma gaivota entontecida
eu parti contigo nos rumores das coisas libertas.

Asa e fogo, grito e beijo,
folhagem e água,
amor e ternura agreste
eu sou.


LÍLIA TAVARES
in, EVOCAÇÃO DAS ÁGUAS




Maturidade Psicológica





Maturidade psicológica: 
A arte de viver em paz 
com o que não podemos mudar



A maturidade psicológica pode ser definida de muitas maneiras, mas o escritor escocês MJ Croan resumiu perfeitamente esse conceito:

“A maturidade é quando o mundo se abre e percebes que não és o centro dele “.

Amadurecer significa deixar a nossa visão egocêntrica para compreender que existe um mundo maior e mais complexo, um mundo que muitas vezes nos coloca à prova e que nem sempre satisfará nossas expectativas, ilusões e necessidades. E, no entanto, quando amadurecemos, podemos viver em paz naquele mundo, aceitando tudo de que não gostamos, mas não podemos mudar.


Negar a realidade: um mecanismo de enfrentamento imaturo e inadequado:

A negação é um mecanismo de enfrentamento que envolve negar fervorosamente a realidade, apesar dos fatos. Geralmente esse mecanismo é acionado por duas razões: 
1. Porque nos apegamos a idéias rígidas que não queremos mudar ou
2. Porque não temos os mecanismos psicológicos necessários para enfrentar a situação.

Em ambos os casos, negar a realidade permite-nos reduzir a ansiedade numa situação em que o nosso cérebro emocional já catalogou como particularmente perturbador ou mesmo ameaçador.
O problema é que a realidade sempre vence.

Se um perseguidor nos aborda no meio da rua, não fechamos os olhos repetindo mentalmente:
” Isto não está a acontecer! ”
Entendemos que estamos em perigo e escapamos ou pedimos ajuda.
No entanto, não reagimos da mesma forma ao resto das situações da nossa vida. Quando não gostamos de algo, estamos desapontados ou entristecidos, implementamos o mecanismo da negação.

Negar veementemente os factos não os fará mudar. Pelo contrário, nos levará a tomar decisões menos adaptativas que podem nos causar mais danos. A pessoa madura, pelo contrário, aceita a realidade, não com resignação, mas com inteligência.
De facto, o psiquiatra alemão Fritz Kunkel disse que
” ser maduro significa enfrentar, não fugir, a cada nova crise que chega “.


A arte de encontrar equilíbrio na adversidade:

“Era uma vez um homem que estava tão perturbado ao ver sua própria sombra e não gostava tanto de seus passos que decidiu se livrar deles.
“Ele veio com um método: fugir. Então ele se levantou e correu, mas toda vez que ele colocava um pé no chão, havia outro passo, enquanto sua sombra o alcançava sem a menor dificuldade.
“Ele atribuiu o fracasso a não correr rápido o suficiente. Ele correu mais e mais rápido, sem parar, até que ele caiu morto.
“Ele não entendeu que teria sido o suficiente para ele se colocar em um local sombrio para que sua sombra se desvanecesse e que, se ele se sentasse e permanecesse imóvel, não haveria mais passos.”

Esta parábola de Zhuangzi nos lembra uma frase de Ralph Waldo Emerson: 
” Maturidade é a idade em que não se é mais enganado por si mesmo “. 
O escritor referiu-se ao momento em que estamos plenamente conscientes dos mecanismos psicológicos que colocamos em prática para lidar com a realidade e proteger nosso “eu”, até o momento em que percebemos que a realidade pode ser difícil, mas que nossa atitude e perspectiva são duas variáveis ​​essenciais nessa equação.

Portanto, a maturidade psicológica, inevitavelmente, envolve auto – consciência envolve conhecer as Thugs mentais que usamos não para avançar, os mecanismos que usamos para fugir da realidade e erróneas crenças que nos mantêm ligados.

Esse conhecimento é básico para lidar com os problemas e obstáculos que a vida nos coloca. Infelizmente, há pessoas que, como o homem da história, nunca atingem esse nível de autoconhecimento e acabam por criar mais confusão e problemas, alimentando a infelicidade e o caos interior.

Atingir a maturidade psicológica não significa aceitar passivamente a realidade assumindo uma atitude resignada, mas ser capaz de olhar com novos olhos o que acontece, aproveitando aquele soco para fortalecer a nossa capacidade de resistência, conhecer-se melhor e até mesmo crescer.

William Arthur Ward disse:
” Cometer erros é humano e tropeçar é comum; a verdadeira maturidade é poder rir de si mesmo “.
Ser capaz de rir de nossos velhos medos porque agora eles parecem grotescos para nós, sobre nossas preocupações ampliadas e aqueles obstáculos “intransponíveis” que eles realmente não eram, é uma amostra enorme de crescimento. Rir sobre as nossas velhas atitudes e crenças não significa apenas que elas são parte do passado, mas que elas não têm mais nenhuma influência emocional sobre nós.

A verdadeira maturidade psicológica surge quando praticamos aceitação radical, quando olhamos a realidade para os olhos e, em vez de descermos, nos perguntamos: 
” Qual é o próximo passo? ” 

Isso significa que, embora a realidade possa ser dolorosa, não ficamos presos no papel de vítimas a sofrer em vão, mas protegemos o nosso equilíbrio emocional adotando uma atitude proativa.



in, Rincon Psicologia





terça-feira, 22 de maio de 2018

Não procures o verso grandioso





Não procures o verso grandioso
aquele que nos tolhe os passos,
a nós, que não somos senão animais,

embriagados de luz

na orla do sonho

Não queiras o saber que pesa
aquele que nos aprisiona o olhar,
a nós, que não procuramos senão
a epiderme do instante e a voz
do vento, em asa veloz.

Não queiras ser senão este animal
de seiva e olhos de fogo que nada sossega
olha como a sua pele repete
o enigma das estrelas
e o calor das savanas,
olha como o seu coração conhece
essa música que arde na noite antiga.

Não procures senão a sombra a ausência
O início do círculo e que nos salva
A nós, que não somos senão animais,



embriagados de luz

na orla do sonho



Maria João Cantinho
in, Do Ínfimo





Não aconteceu o que eu queria?





Então vou seguir feliz pelo novo caminho que a vida me impôs.

Na verdade esse novo plano não é uma imposição, porque estarei de acordo com a vida.
Por ser assim, o que ela quiser, eu também quero.

Sabedoria é fluir com a vida, é a aceitação plena de tudo.
É abrir o coração para o facto de que todos os caminhos existem para nos ensinar algo, para transformar algo em nós, para despertarmos e vencermos nossa mente condicionada. E assim vamos aprendendo a cocriar com flexibilidade, a interagir com a vida criativamente.
Sabedoria é praticar os conhecimentos espirituais, é realmente se entregar à impermanência e à transitoriedade.

Uma flor não deixa de ser bela porque ela vai murchar e nem deixamos de admirar sua beleza por isso.


Marcelo Dalla




sábado, 19 de maio de 2018

Are You There?






Each lover has a theory of his own 
About the difference between the ache
Of being with his love, and being alone:

Why what, when dreaming, is dear flesh and bone 
That really stirs the senses, when awake, 
Appears a simulacrum of his own.

Narcissus disbelieves in the unknown; 
He cannot join his image in the lake
So long he assumes he is alone.

The child, the waterfall, the fire, the stone,
Are always up to mischief, though, and take
The universe for granted as their own.

The elderly, like Proust, are always prone
To think of love as a subjective fake;
The more they love, the more they feel alone.

Whatever view we hold, it must be shown
Why every lover has a wish to make
Some other kind of otherwise his own:
Perhaps, in fact, we never are alone. 


W. H. Auden





VICIADOS EM C.C.C.




VICIADOS EM C.C.C. 
CRÍTICA, CULPA, CONFLITO

A necessidade de criticar, culpar e estar em permanente conflito 
pode tornar-se viciante e à semelhança de qualquer outra droga, 
provocar dependência.



Pessoas que o criticam e o fazem sentir culpado repetidamente, que sentem prazer em discutir, fá-lo lembrar alguma situação ou alguém em particular?

Todos guardamos na memória esses momentos e essas pessoas porque teimam em permanecer na nossa mente como sinais Vermelhos, embora já não estejam nas nossas vidas, ou ainda estejam por uma razão, mil razões, ou nenhuma razão em concreto.

E como o fazem sentir as pessoas aditivas em C.C.C.?

Aquelas que lhe apontam o dedo, as falhas, os defeitos, uma vez após outra?

Que o fazem assumir os erros que sabe que não cometeu, a responsabilidade que não é sua, e que descobrem os motivos mais inacreditáveis para discutir consigo, para lhe extrair a sua energia vital, a sua alegria, a sua paz… fazendo-o sentir passar por tempestades cíclicas não são previsíveis pelo melhor meteorologista do mundo?

Uma das emoções que melhor define quem o vive, é confusão!

As pessoas viciadas em C.C.C. têm a capacidade mágica de gerar desorientação, confusão e aflição intensas nos outros. Sabe porquê?

Porque ninguém vem ao mundo com um Kit de sobrevivência contra elas. Fizeram-nos acreditar que as pessoas são boas e que podemos confiar nelas. Quando alguém nos faz mal, tendemos a pensar que nós é que lhe fizemos mal, nós é que errámos ou temos algo de errado, e isso pode ser verdade, como pode não ser. E quando é mentira, algumas pessoas podem fazê-lo acreditar que é verdade e provocar em si uma indescritível sensação de incapacidade, vergonha e pequenez, levando-o a perguntar-se: Afinal quem sou e quanto valho?

E aí está o grande Perigo: Duvidar de quem é, das suas capacidades e do seu valor.

Muito para além da irritação, da ansiedade, de poderem esgotar a sua paciência, de o desgastarem emocional e fisicamente, a ponto de ter a impressão de estar a ficar doido, muitas dessas pessoas têm o Poder de o fazer questionar os seus juízos de valor, a sua perceção, as suas convicções, os seus princípios e valores, a sua dignidade e integridade, aquilo que considera ser bom e o melhor para si, diminuindo a sua autoestima, a sua autoconfiança, podendo fazer com que se sinta muito inseguro.

E sabe uma coisa? Ninguém está a Salvo delas! Não existe formação, dinheiro, poder ou sucesso que sejam suficientemente dissuasores. A única coisa que o pode proteger é saber identifica-las a tempo, fugir, e se não for possível, saber relacionar-se com elas.

Para além de detetives das falhas e da culpa alheias, muitas apresentam traços vincados de egoísmo, egocentrismo, demonstram desinteresse e indiferença constantes quando às necessidades e interesses do outro.

Um outro traço que os caracteriza é a sua permanente superioridade, arrogância, autoritarismo e insatisfação, independentemente da capacidade de dar, agradar e satisfazer de quem está por perto.

Este é outro dos grandes Perigos! Acreditar que a satisfação e felicidade delas, dependem de si. Acreditar que por dar mais, amar mais, estar mais, ajudar mais, perdoar mais, trabalhar mais, dedicar-se mais, abrir mão de si, satisfazer todos os seus caprichos e devaneios, o vão respeitar, admirar e valorizar mais!

Esqueça! Não resulta! Sabe porquê?

Porque os aditivos em C.C.C. não o conseguem ver, nem ver o que faz por eles. Para eles isso é obrigação sua, não Amor, Amizade, afeto, interesse, mérito… porque, senão a maioria, muitos não sabem o que isso significa.

Sabe por quem se sentem mais atraídos? Exatamente pelas pessoas que os colocam como prioridade nas suas vidas. Pessoas generosas, bondosas, que perdoam facilmente, que deixam tudo para ajudar os outros, que apresentam dificuldade em colocar limites, definir regras e dizer “não”. E ainda, aquelas que idealizam a vida e as relações e que acreditam que a sua transformação depende tão só delas próprias.

Esqueça! As Pessoas Aditivas em C.C.C. vão continuar a sê-lo independentemente do que possa fazer.

Deixar de Ser, calar-se, anular-se, fazer tudo o que querem, assumir ser quem eles dizem que é, dar mais, virar-se do avesso… pouco ou nada vai resultar.

Sabe Porquê? Porque elas precisam de criticar, de culpar e de discutir, como precisam de comer e de dormir.

Criticam para se sentirem superiores, culpam para não sentirem vergonha, discutem para se sentirem poderosos… independentemente do que faça! Precisam fazê-lo para sentirem a confiança que não têm e sentir que existem.

Aquilo que sente, o que pensa, o que quer… é-lhes indiferente e passa-lhes ao lado!

Sim, são um perigo porque se coloca a sua vida nas suas mãos, corre o risco de se vir a identificar com elas, de ficar dependente e de se esquecer de quem um dia foi. E acredite, nem elas nem ninguém o vai considerar um herói por entregar a sua vida nas mãos de um outro alguém narcisista que precisa deitar o seu lixo emocional sobre si.

Quem decide quem é e qual é o seu valor, é você não os outros!

Não hipoteque a sua vida nas mãos de um narcisista que finge importar-se consigo, alimenta as suas fantasias quando lhe dá jeito e o faz sentir pequeno para se sentir grande!

Por detrás do vício C.C.C. alguém profundamente carente de autoconfiança e inseguro.

Mas você não é responsável pelas suas feridas quaisquer que elas sejam, não tem de ser “bode expiatório” ou “balão de oxigénio” da dor e sofrimento dos outros, nem carregar às costas a sua infelicidade, especialmente quando o criticam e culpam constantemente.

Se estas temáticas são do seu interesse, no meu Novo Livro “Perigo! Duas Caras” encontrará o seu desenvolvimento e ficará a saber como os identificar e defender-se.


MARGARIDA VIEITEZ